APPALOOSA
(APPALOOSA – UMA CIDADE SEM LEI)
Direção: Ed Harris
Roteiro: Robert Knott e Ed Harris
Produção: Ginger Sledge, Ed Harris e Robert Knott
Ano: 2008
Elenco: Viggo Mortensen, Ed Harris, Renée Zellweger...
Duração: 115 minutos
Uma sedutora tentativa de resgate do brilho dos antigos e charmosos westerns norte-americanos.
Análise: Não há como negar que, através de décadas e mais décadas passadas nas profundezas da sétima-arte, o papel exercido pelo western foi-se enfraquecendo e perdendo sua propícia estadia no ramo dos maiores gêneros cinematográficos. Mesmo com as mirabolantes experiências do mais tardio – porém não menos brilhante – faroeste europeu, a autorização para o “cessar fogo” entre mocinhos e bandidos parece que foi concedida: a partir da década de 80 até os dias de hoje, dá para se contar nos dedos os filmes que tiveram seu certo valor, merecendo o sucesso que lhes foi concedido e, consequentemente, agora sobrevivendo à custa de tais agradáveis lembranças.
Inclusive, o frustrante desempenho – comercial e técnico – do ilustre bang-bang no decorrer dos anos de 1980 acabou se tornando o principal motivo para explicar a recaída das produções, evitando cada vez mais os trabalhos no gênero. E, como se não bastasse, todo este efeito devastador teve sua origem em O Portal do Paraíso (Heaven’s Gate, 1980), do consagrado realizador Michael Cimino, responsável por vencer o Oscar dois anos atrás, com sua obra-prima de O Franco Atirador.
Entretanto, os anos 90 surgiram para o mundo e o western (re)floresceu dentro do cinema, apesar de sua divina essência estar um tanto quanto aniquilada. E durante o princípio da década, logo tínhamos um esboço do que seria do gênero depois de uma significativa queda de rendimento: eram realizados sucessos de bilheteria e de crítica como Dança com Lobos (Kevin Costner, 1990), Contratado para Matar (Simon Wincer, 1990), El Mariachi (Robert Rodriguez, 1992), Os Imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992), Wyatt Earp (Lawrence Kasdan, 1994), entre muitos outros.
A entrada ao terceiro milênio, todavia, não conseguiu manter os harmônicos anos 90. Somente em distantes espaços de tempo é possível acompanhar o enraizamento de um novo western, sendo que seu resultado final às vezes nem chega a ser completamente satisfatório!
Pois foi em 2008 que uma das oportunidades em reviver os tempos gloriosos do velho-oeste nos dias atuais caiu nas mãos do dedicado cineasta norte-americano Ed Harris que, só contando com uma participação no gênero, resolveu tomar todas as responsabilidades possíveis na realização do fascinante Appaloosa, relevando-se prepotentemente nas figuras de ator, diretor, produtor e até mesmo de roteirista, papel no qual teve como base a novela do escritor de crimes Robert B. Parker.
Dentre os mais destacáveis do período considerado “moderno” estão Três Enterros (Tommy Lee Jones, 2005), Os Indomáveis (James Mangold, 2007), Onde os Fracos não têm vez (Joel e Ethan Coen, 2007), O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (Andrew Dominik, 2007), Os Invencíveis (Kim Ji-woon, 2008), Bravura Indômita (Joel e Ethan Coen, 2010), fora ainda o então analisado, Appaloosa.
“Vínhamos mantendo a paz juntos há doze anos ou coisa assim. E quando avistamos uma cidade chamada Appaloosa, não tinha razão para duvidar que faríamos o mesmo, como previsto”.
A partir deste prelúdio reportando a amizade inseparável vivida entre Everett Hitch (Viggo Mortensen) e Virgil Cole (Ed Harris), de prontidão somos encaminhados aos pilares nos quais se apoiaria todo o enredo do filme, o qual leva justamente o nome da cidade donde se passa a trama, e ainda a complementa com grande propriedade: Appaloosa é uma cidade sem lei.
A ocorrência que nos leva a crer que Appaloosa (localizada no Novo México) realmente seja um território em falta de ordens é a hegemonia de um poderoso rancheiro e seus pistoleiros contratados: Randall Bragg (Jeremy Irons) deixa esposas viúvas e sai ileso, de um momento para outro. Sem qualquer tipo de punição, claramente teríamos um horrendo prolongamento de seu derramamento de sangue, sendo a vítima da vez o então xerife da urbe, de nome Jack Bell (Bobby Jauregui). Ah, fora seus dois assistentes...
Decorrida todas as ações necessárias para criar a atmosfera que levaria a importância de Appaloosa do início ao fim, os protagonistas passam a aparecer de forma mais intensa: Hitch e Cole tornam-se xerifes e impõem a lei – com certa dificuldade – na cidade. Após conseguir o que já era difícil, agora a principal missão dos companheiros seria caçar Bragg, por tudo já feito pelo fora-da-lei inescrupuloso.
E, enquanto se preocupam com a perseguição pelo rancheiro causador de problemas, mais conflitos aparecem para reger a história dos xerifes da lei: a beleza de Allison French (Renée Zellweger) chega para tirar a concentração de todos, reservando seu lugar na cidade sem lei. Porém, quem acredita no conflito entre os amigos Cole e Hitch para ficar com Allie, isto não acontecerá... Eles são demasiadamente ligados para brigar por tamanha besteira!
Tomando como base a novela de mesmo nome, escrita por Robert B. Parker três anos antes da realização do filme, os roteiristas Robert Knott e Ed Harris são responsáveis por transcrever no papel uma bela fusão de aventura, romance e sem dúvida, de faroeste. Através de conflitos psicológicos e os habituais duelos, somos cercados por belas paisagens que remontam os eurowesterns e também por límpidas referências a clássicos estadunidenses.
Inclusive, a crucial das alusões são exatamente as circunstâncias em que os xerifes se sentam em frente à prisão e conversam em tom descontraído, relembrando celebradas cenas de Paixão dos Fortes (John Ford, 1946). Outras menções vão para Os Imperdoáveis: o momento da captura de Bragg, onde o rancheiro está no banheiro e é surpreendido pelos delegados, ou então com a cidade de Appaloosa sendo refletida contra o belíssimo pôr-do-sol.
A mirabolante fotografia do veterano em faroestes Dean Semler chega a beirar a perfeição, com tantas maravilhas do oeste a seu dispor; além do próprio Appaloosa, ele também foi responsável por tal importante quesito em Dança com Lobos e O Álamo (John Lee Hancock, 2004).
A presença de homens de postura (e de fama) deixa o elenco bastante fortalecido, até nos dando a impressão de que os atores foram selecionados justamente para interpretar os homens durões e emotivos do velho-oeste. Em consequência disto, as atuações não deixariam a desejar...
Apesar de tudo, uma das maiores ênfases deve ser dada para os figurinos, de David Robinson, e para os cenários, de Waldemar Kalinowski. No primeiro, temos uma grande variedade de roupas, todas responsáveis por nos fazer relembrar a era do Oeste. Já em relação ao segundo, percebemos uma maravilhosa construção da cidade de Appaloosa, construída de maneira minuciosa e com valor inestimável, dando realce desde os vidros das casas até suas arquiteturas históricas.
Finalmente, o mais destacável é o fato de que cada personagem – mesmo que este seja um mero cidadão e não tenha fala alguma – possui sua história. As pessoas que simplesmente passam na rua tem alguma marca registrada de sua personalidade ou de seu passado. O barbeiro, por exemplo, desfruta de quadros de touradas em seu salão, o que remete ao passo dele apreciar tal atividade.
Partindo para um dos mais indagadores e sedutores faroestes modernos – ao lado de Três Enterros e O Assassinato de Jesse James –, Appaloosa é um filme para se assistir sem compromisso, esperando grandes reviravoltas e um tipo de romance um tanto quanto inusitado. A tentativa de resgate dos antigos e charmosos westerns me pareceu válida, mesmo que os tiroteios daqui não se assemelhassem aos de seus antecessores, nos quais sentíamos um nível de tensão muito maior.
Conclusão: um resultado eficaz, apesar de seus erros. Os muitos diálogos que regem toda a trama acabam por confrontar os personagens da forma mais psicológica possível, afastando o filme de velhos faroestes nos quais se resolviam os problemas na base das “balas”. Mas, o que realmente podemos tirar de Appaloosa é: as mulheres também podem ser perigosas no Oeste!
MINHA NOTA PARA ESTE FILME:
ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.
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