30 de julho de 2011

Crítica: O homem que matou o facínora

THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE

(O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA)

Direção: John Ford

Roteiro: James Warner Bellah e Willis Goldbeck

Produção: Willis Goldbeck e John Ford

Ano: 1962

Elenco: James Stewart, John Wayne, Vera Miles…

Duração: 123 minutos

Um dos maiores frutos já colhidos pela parceria entre Wayne e Ford resulta em um western visceral e sem tantas características do maior gênero norte-americano.

Análise: Como um filme ganha o rótulo de clássico? Por possuir um elenco avassalador?! Um diretor de renome?! Roteiro e trilha sonora impecável?! Estes são ótimos argumentos para responder à pergunta, e de maneira alguma estão fora do contexto de O Homem que Matou a Facínora. Quero dizer que, além de juntar todos estes tópicos para a formação de um clássico cinematográfico, um dos maiores filmes da carreira de John Ford ainda conta com “algo a mais”: ele busca levantar questões, ele almeja uma explicação à política do presente e do futuro, ele quer mostrar o romance de uma forma mais cruel e dramática em relação ao fato do “mocinho ficar com a donzela”. A tradução de tudo isto é que Ford não queria fazer do cinema uma arte comercial, onde tudo o que importa é o capital. Todavia, o cinema em seu país ia em direção contrária ao interesse do diretor e isto fez com que Ford não produzisse em condições adequadas, já que os grandes estúdios não se interessavam em realizar mais westerns pelo simples fato do gênero não arrecadar tanto dinheiro como antes.

Baseado na ficção westerniana de Dorothy M. Johnson, a história de O Homem que matou a Facínora é contada em flashbacks e ganha vida nas mãos do “fabulástico” diretor John Ford, comandando a sua enorme trupe de atores talentosos e até consagrados, como é o caso dos protagonistas John Wayne e James Stewart, os quais representam o salvador e o salvado, respectivamente. Para entender melhor, a trama se inicia com a chegada do senador e advogado Ransom Stoddard (Stewart) e de sua mulher Hallie (Vera Miles) à cidade de Shinbone, para comparecer ao enterro do velho amigo Tom Doniphon (Wayne). Após a chegada dos jornalistas que não conhecem o defunto em questão, Stoddard conta a história que estará em pauta durante todo o filme: quando ele viajava em uma diligência para o oeste, a gangue de um dos mais temidos pistoleiros da região – Liberty Valance (Lee Marvin) – intervém na viagem, roubando a caixa de dinheiro e também os passageiros. Sendo um exímio protetor das mulheres e contra a ética de carregar armas em mãos, Stoddard é violentado pela gangue e é então que surge o rude cavaleiro Tom Doniphon, responsável por carregar o corpo do advogado até uma casa na cidade de Shinbone onde é ajudado pela família da jovem analfabeta Hallie. Com a rivalidade criada entre Stoddard e Valance, o advogado só deseja sua vingança da forma mais limpa possível: pela lei. Enquanto isso, Doniphon vai desacreditando no poder de Stoddard para conseguir este feito e se apaixona cada vez mais por Hallie, o que invoca ao filme seus momentos românticos e dramáticos.

A amargurada trilha sonora composta por Cyril Mockridge e orquestrada por Irvin Talbot até consegue preencher alguns espaços, mas se transparece durante quase todo o filme e por vezes não percebemos sua existência. O elenco de atores é composto por grandes nomes da sétima-arte, sendo que muitos já haviam trabalhado com Ford em seu outro clássico (Stagecoach), e também nos dando uma noção do quão primoroso seriam as atuações, a qual casa perfeitamente com a fotografia em preto e branco de William H. Clothier, aumentando a tristeza e melancolia das imagens. Por último, a inexplicável direção de John Ford, talvez em seu melhor trabalho como diretor, apresentando planos longos e uma genialidade de tirar o fôlego.

Considerado por muitos cinéfilos como o maior filme da carreira de John Ford – ao lado de Stagecoach, Rastros de Ódio e Paixão dos fortes –, ele também ajudou o diretor a herdar o posto de “um dos maiores cineastas norte-americanos”, sem contar que teve a honra de ser escolhido como um dos filmes favoritos do italiano Sergio Leone e até mesmo o ajudando a construir um subgênero do faroeste: o famoso western spaghetti. Prova disso é de que em O Homem que Matou a Facínora os ideais do faroeste norte-americano não são postos de forma tão explícita como em outras películas, principalmente em relação à violência, a qual ganha um maior destaque nas mãos do personagem de Lee Marvin. Fora isso, aquele bom e velho clássico norte-americano volta a tomar forma dentro do projeto, acentuado pelo patriotismo na cena da escola, pelo humor e gags concentradas em um único personagem (no xerife, interpretado por Andy Devine), pelo heroísmo do pistoleiro durão e solitário (Doniphon, por John Wayne), pela inteligência e inocência de um simples homem (Stoddard, por James Stewart), e pela beleza da mulher valente e trabalhadora (Hallie, por Vera Miles). Porém, apesar de tudo responsável por esclarecer, o filme só conseguiu uma insignificante indicação ao Oscar e, mesmo assim, não levou o prêmio de “Melhor Figurino”.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

2 comentários:

  1. Boa Tarde, acabei de conhecer o Blog, ótimo, gostei muito.
    Esse filme, depois de SHANE e Rastros de Ódio é meu preferido nesse gênero, Aguardo sua visita, estou seguindo e estarei sempre por aqui, Abração.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo elogio, Jefferson!

    É realmente muito boa esta obra-prima (uau, mais uma!) de John Ford.

    Já dei uma passada pelo seu blog e também me agradou - muito, diga-se de passagem.

    Abraços!

    ResponderExcluir