27 de agosto de 2011

Crítica: Keoma

KEOMA

Direção: Enzo G. Castellari

Roteiro: Enzo G. Castellari, Nico Ducci, Luigi Montefiori e Mino Roli

Produção: Manolo Bolognini

Ano: 1976

Elenco: Franco Nero, William Berger, Olga Karlatos...

Duração: 97 minutos

A despedida não oficial de um gênero com pouco mais de uma década de existência, porém com um brilho eterno em nossas mentes e corações cinéfilos.

Análise: O ano é de 1976 e estava sendo estampada o fim de uma das décadas mais contemplativas na história da sétima-arte, com uma volumosa quantidade dos maiores clássicos marcando sua presença por esta época. Um destes clássicos seria o último dos faroestes coesos, definitivos e concretos: estou falando de Keoma, do diretor e roteirista italiano Enzo G. Castellari.

Naquele determinado ano, o gênero cinematográfico inventado na Europa e popularizado como western spaghetti já tinha seus rumos diretamente traçados pelos seus principais nomes - Sergio Leone, Sam Peckinpah e Sergio Corbucci. Apesar disso, este novo caráter do cinema europeu teve de lutar muito para conquistar seu espaço, recebendo duras críticas ao excesso de violência contextualizado nos trabalhos e até sendo classificados como "lixos sangrentos". Foi então que há catorze anos do lançamento de Keoma o gênero teve seu estopim, com o “leônico” Por um Punhado de Dólares. Isto simplesmente conclui que, apesar do pouco tempo de duração do western spaghetti, ele foi suficiente para construir a belíssima história que construiu dentro do planeta cinematográfico!

Extras do DVD – Franco Nero fala de seu papel no filme Keoma.

Comum em muitos filmes do cinema em um modo geral, o título original de Keoma se deriva do personagem principal do trabalho. Além do próprio, outros exemplos desse clichê no faroeste são Django (1966) e Ringo e sua Pistola Dourada (1965), ambos de Sergio Corbucci. Coincidindo com tal afirmação, o personagem principal é Keoma, um mestiço desempenhado pelo formidável Franco Nero em uma de suas melhores interpretações. O jeito pelo qual o ator entra no personagem é exuberante, apesar de que a história dada a ele seja um tanto quanto ultrapassada de acordo com a época em que foi feito o último dos verdadeiros faroestes: ela se baseia na procura da insaciável e afamada vingança.

Anexando o agitado passado e o sangrento presente de Keoma, o uso de pequenos flashbacks se torna constante, acumulando cada vez mais os personagens na lista de vingança do anti-herói, onde já são marcados os primeiros nomes quando ele realiza seu retorno à sua cidade-natal, que passa pela infecção de uma peste. No caminho, Keoma salva a vida e se apaixona pela garota grávida de nome Lisa (interpretada por Olga Karlatos). Chegando à cidade, ele ainda se defronta diretamente com seus três meios-irmãos (Orso Maria Guerrini, Antonio Marsina e Joshua Sinclair) que fazem parte da gangue do ex-Confederado e perigoso Caldwell (Donald O’Brian). Neste contexto, o único objetivo de Keoma é ter a chance de fazer vingança com suas próprias mãos contra aqueles que o fizeram sofrer antigamente.

Já dispondo de mais tecnologias do que no início do gênero (quando as produções ainda eram consideradas do TIPO B) o filme chama a atenção pelo seu aspecto inovador, consagrando principalmente o diretor Enzo G. Castellari por seu uso de câmeras lentas e da constante violência brutal, além de planos completamente inusitados; logicamente a comparação entre ele e Sam Peckinpah não nos escapa à mente, sendo que com ambos sentimos o prazer em ver aquelas pessoas sendo mortas a partir de um elegante estilo. Outra diferente ênfase se deve à trilha sonora da dupla Guido e Maurizio De Angelis, a qual não é nada como os filmes do gênero estavam acostumados, chamando a atenção para algo mais rústico e deixando de lado o peculiar instrumental como fazia Ennio Morricone; aliás, uma das sequelas que o filme deixa em você é a música-tema, por ser tão marcante. Logo o roteiro criado pelo quarteto Castellari, Ducci, Montefiori e Roli é um dos elementos de mais destaque em Keoma, justamente pelo argumento de construção e desenvolvimento do personagem-título ser algo evidentemente irrepreensível. Por último e ao lado do roteiro, os temas dramáticos e o tiroteio final são elementos de impressionar, fazendo com que a mistura causada seja algo milimetricamente perfeito!

A abertura com a penetrante música-tema de Keoma.

Keoma é, portanto, uma despedida não oficial do western spaghetti na história da sétima-arte, até servindo como uma forma de filme-homenagem a todos os trabalhos realizados na pequena história do gênero. Prova disso são as diferentes perspectivas apontadas pelo diretor Castellari, que além de se preocupar com seu próprio estilo, ainda apresenta os close-ups de Leone e a violência de Peckinpah – os dois principais precursores do spaghetti. Como um adeus do gênero no cinema, a película funciona de maneira mais que especial, causando uma sensação primorosa!

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

5 comentários:

  1. A banda sonora dos irmãos De Angelis é realmente bastante diferente do habitual, lembro-me bem de a ter odiado na primeira vez que vi o filme, mas agora adoro-a. Eles fariam uma coisa parecida para o filme "Mannaja" (que no Brasil se chama "Cego Por Vingança"), outro spaghetti bastante invulgar que conta com a estrela do cinema policial italiano - Maurizio Merli - enquanto vingador solitário. Não é genial como este "Keoma", mas é mais um filme da fase final do western-spaghetti que não podem perder.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

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  2. Posso estar enganado mas acho que Sam Peckinpah não é considerado um dos nomes do Western Spaghetti. Inclusive nos extras de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro o próprio Martin Scorcese fala sobre seu gosto por filmes naquela época, que preferia os filmes de Peckinpah aos filmes italianos de Leone e Cia.

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  3. esse filme é sem igual, lendário, estilo típico da época, perfeito, até o cabelão de Keoma era marcante pro papel, tudo é perfeito, roupas, cenário, cavalos caiam memso, parece real, não tinha essa tecnologia de hoje, tinha que cair no barro mesmo, keoma não usa dublê quando puxado de arrasto por cavalo, somente uma proteção em baixo, e por ser um exímio atirar sem mirar o alvo faz ser um super astro, com certeza esse filme marcou história, e não vi filme melhor, todos eu comparo com Keoma, bons mas muito forjado, e os de hoje nem o cenário é bom, musicas horríveis, tudo falso, sem aquela impressão real, então os de hoje nem perco mais tempo, tudo de péssima qualidade,então é melhor olhar os bem antigos para ver um velho oeste de verdade ou rever o Keoma mesmo.

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  4. Só tenho uma dúvida boba, a mendiga que diz ter "polpado" Keoma da morte seria ela um Ceifero? Ou mesmo a própria morte? Pois percebi que ninguém interage com ela, exceto Keoma e ao ser salvo da roda a qual estava preso aparece ela, num corte na mesma posição aparece a moça grávida. Quem é exatamente essa mendiga? Obrigado...

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  5. Anônimo, boa pergunta. Até hoje tento saber quem era aquela velha mulher. Ninguém te respondeu, acho q ninguém sabe. Tbm acho q era a Morte ou coisa parecida. Rsrs

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