10 de maio de 2012

Crítica: A Proposta

THE PROPOSITION

(A PROPOSTA)

Direção: John Hillcoat

Roteiro: Nick Cave

Produção: Chris Brown, Chiara Menage, Jackie O’Sullivan e Cat Villiers.

Ano: 2005

Elenco: Guy Pearce, Ray Winstone, Emily Watson…

Duração: 104 minutos

Um dos grandes nomes do western moderno se passa na Austrália e destaca a soberba fotografia e a não menos excelente trilha sonora.

Análise: Sem sombra de dúvida, a melhor época do bang-bang dentro do cinema foi entre as décadas de 50 e 70. Entretanto, de lá para cá, percebemos que o número de filmes do gênero decaiu muito – não só em quantidade, mas também em qualidade. Com poucos sucessos obtidos, desses lançamentos pós-época de ouro e até o final do século XX, o que mais resguardou glórias foi o premiado filme de Clint Eastwood, Os Imperdoáveis (1992). Já nos últimos anos, podemos ver que a produção de filmes do estilo cresceu, e sua qualidade também. Bons exemplos são O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (Andrew Dominik, 2007), Os Indomáveis (James Mangold, 2007), e Bravura Indômita (Irmãos Coen, 2010). Sem contar que, ainda no fim deste ano, teremos o lançamento de mais um western muito esperado: Django Livre, do sanguinolento Quentin Tarantino. Assim, a proposta de John Hillcoat para com o público de seu faroeste moderno acaba tornando-se um desses grandes westerns lançados ultimamente, tendo todos os elementos necessários para o sucesso de crítica e de público, com destaque para a história muito interessante, escrita por Nick Cave e que se passa na Austrália – pouco requerida para faroestes – durante a colonização dos ingleses.

Após uma calma música cantada por uma criança, acompanhada de imagens de soldados, nativos, cidadãos, de uma cidade e outras tantas que apresentam a antiga Austrália e os créditos iniciais, temos um início do filme que quebra o ritmo tranquilo com muitos tiros, motivados pelo cerco dos soldados ingleses em uma casa onde estão localizados os irmãos Charlie (Guy Pearce) e Mike Burns (Richard Wilson), membros da quadrilha dos Burns, famosa por fazer um brutal ataque contra a família Hopkins. O Capitão Stanley (Ray Winstone), então, propõe que Charlie mate o membro mais perigoso de sua gangue, para que o seu irmão mais novo, Mike, não seja enforcado. Charlie tem até o Natal, oito dias, para reencontrar seu outro irmão, Arthur (Danny Huston), e conseguir salvar o ingênuo Mike, mas não sem antes envolver-se com os nativos e alguns desafios, e o capitão Stanley tendo que arcar com as consequências da arriscada oferenda em um fim cheio de violência.

Atualmente, as câmeras possuem uma ótima qualidade e, consequentemente, isso permite a captação de lindas imagens – melhores do que as captadas no século passado, obviamente. É de tal modo que, em A Proposta, podemos nos satisfazer com uma ótima fotografia, aproveitando as belas paisagens do deserto australiano e abusando de figuras contrastadas entre o céu e o deserto, principalmente naquelas com o pôr-do-sol – elemento também presente em O Atalho (Kelly Reichardt, 2010) e o já citado O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford.

E as semelhanças entre os trabalhos dos diretores Hillcoat e Dominik não param por aqui: ambos os filmes tem a parceria de Nick Cave e Warren Ellis, e possuem o desenvolvimento da história em uma atmosfera tensa e com falas que nos fazem pensar. A ótima trilha sonora ajuda a manter tal ambiente, com o revezamento entre as músicas dramáticas e outras elétricas, as quais ajudam a aumentar as expectativas com o desenvolver da película. O destaque fica para The Rider Song, poética melodia cantada por Nick Cave e servindo como uma música-tema, fora suas outras muitas variáveis.

O personagem de Arthur Burns, interpretado pelo ator Danny Huston (foto) é um dos líderes de gangue mais diferentes: assassino de sangue-frio, tornou-se um homem-cachorro – não dormindo e sempre atento. Porém, ele não se coloca por cima de tudo nem de todos, querendo o bem de seus irmãos, mesmo sendo machucado por Charlie e aceitando a situação. Já o próprio Charlie é o tipo silencioso, vendo em seus olhos um criminoso perfeito, mas cansado de tal vida. Completando os irmãos Burns, temos o caçula Mike, que mostra ser um jovem bem incauto, não sabendo direito o que faz e nem as consequências de seus atos.

John Hillcoat realiza, aqui, uma verdadeira obra-prima, com ótimo aproveitamento do que tinha em mãos, sobretudo de uma fotografia rica de detalhes, como a beleza vista na cena em que um carrasco torce seu chicote para limpá-lo do sangue de Mike. Além de tudo, A Proposta faz certa crítica ao machismo da época, o que aumenta o embate inserido no contexto histórico que se passa nas telas.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR THIERRY VASQUES.

4 comentários:

  1. Com efeito muito positivo, tudo que foi dito.
    Não vi a fita em comentário, mas posso muito bem analisar os resultados de uma boa fotografia e de uma musica que se enquadre na trama, mas que seja atirada sobre o espectador sempre nos momentos precisos.

    Pode-se muito bem construir um filme bastante aceitável baseado nestas duas propostas, ainda que seu conteudo seja fraco, o que, conforme cita nosso editor, não é esse o caso.

    Porém, na dependencia da condução do cineasta, não é dificil se fazer algo bastante condizente, sem um forte conteudo, mas com uma fotografia de qualidade e uma musica especialmente bem caracterizada.

    Muitas vezes ponho palavras no comentário sem comentar a fita, como o caso em pauta.
    Mas nada é feito ou dito sem uma causa, já que uma leitura como a que acabo de captar é de pronto interesse para quem ama o genero, além de deixar sempre suas portas abertas a informações como a que acabo de observar.

    A leitura de um bem construido comentário é sempre uma indicação, ou não, à visitação de uma obra.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Tava de bobeira e resolvi assistir O Atalho e depois ja emendei A proposta, e digo a vocês, foram pouco mais de 3 horas muito bem gastas.
    O Cinema western ta em alta, no final do ano tem Django livre, espero que continue assim...

    Abrs e parabens pelo trabalho Thierry e Bruno.

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    1. Sem dúvida, o cinema do gênero está sendo muito bem aproveitado, com trabalhos que sabem explorar o que ele tem de melhor. Alguns acabam assassinando toda a magia, como, por exemplo, Jonah Hex e seus efeitos (nada) especiais. O que importa é que ultimamente vivemos grande fase.

      Abraços. E obrigado por nos acompanhar.

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  3. excelente western. já chama a atenção o fato da história se passar na austrália, mas mais do que isso é um filme brutal, com uma atmosfera pesada e contemplativa, que chega até a ser poética em alguns momentos.

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