19 de julho de 2012

Crítica | O Último Pistoleiro

THE SHOOTIST

(O ÚLTIMO PISTOLEIRO)

Direção: Don Siegel

Roteiro: Scott Hale e Miles Hood Swarthout

Elenco: John Wayne, Lauren Bacall, Ron Howard...

Ano: 1976

Duração: 100 minutos

John Wayne dá adeus ao cinema em uma ode ao gênero que o relevou.

Análise: O Último Pistoleiro não é só um ótimo faroeste norte-americano, como também a triste despedida de um dos grandes ícones do gênero, John Wayne, que morreu em 1979 – três anos após a realização do projeto. A película serve para mostrar um fora-da-lei do oeste de forma diferenciada: um pistoleiro já velho e vivendo os seus derradeiros dias de vida, por estar com câncer – doença esta que, ironicamente, foi a responsável por definhar Wayne na vida real.

Adaptação do livro homônimo de 1975, escrito por Glendon Swarthout, o roteiro do filme é escrito justamente pelo filho deste em conjunto com um companheiro.

Repetindo a dose de O Homem que Matou o Facínora (John Ford, 1962), temos aqui um Wayne e Stewart bem mais idosos, porém não menos geniais.

O Último Pistoleiro inicia de forma emocionante, com um conjunto de imagens de antigos filmes de John Wayne, servindo como uma introdução ao passado de um famoso pistoleiro: John Bernard Books (Wayne) que, em 1901, vai para Carson City visitar o antigo amigo e médico E.W Hostetler (James Stewart), para confirmar as suspeitas de que estava com câncer. Hostetler confirma a doença “incurável” e, então, o pistoleiro aluga um quarto na pousada de Bond Rogers (Lauren Bacall) com o intuito de passar os últimos dias de vida tranquilamente; entretanto, sua presença vira notícia pela região e atraem interesseiros e inimigos, os quais J.B Books decide confrontar no dia de seu último aniversário, sabendo que aqueles seriam seus últimos tiros.

Tanto Wayne quanto Lauren Bacall interpretaram muito bem seus personagens, até por terem sofrido direta ou indiretamente com o câncer. Inicialmente, o papel principal ficaria com George C. Scott, mas este cedeu ao astro rei dos faroestes que pediu o papel e, mesmo com problemas de saúde, ganhou-o. Sua escolha foi um grande acerto da produção (liderada por William Self e M.J. Frankovich), pois consegue construir de forma real e emotiva o personagem, aproveitando a decadência de seu estado após o aparecimento de um câncer de pulmão em 1964. Algo semelhante aconteceu com Bacall, em 1957, quando perdeu o marido, Humphrey Bogart, devido à mesma doença, porém na garganta. Com a inteligência da produção, o contrato de tais personalidades ajuda na construção dos respectivos personagens.

O filme mostra pessoas insensíveis e que querem se aproveitar da fama das outras, as quais se aproximam do próprio juízo final. Exemplos de tal é o delegado Walter J. Thibido (Harry Morgan) que, ao saber que Books está perto da morte, ri por não precisar enfrentar o adversário; o repórter, Dan Dobkins (Rick Lenz), querendo fazer sucesso por escrever um livro narrando as aventuras de Books; o agente funerário Hezekiah Sweeney (John Carradine), que oferece um ótimo plano de embalsamento (e Books o rejeita) por saber que iriam expor seu corpo para visitas, em troca de dinheiro; o cabeleireiro, que parece bondoso ao cortar o cabelo de Books gratuitamente, mas logo depois recolhe-o todo para vende-lo; por fim, uma antiga amada de Books, Serepta (Sheree North), que queria se casar para ficar com os bens e também com o sobrenome do famoso pistoleiro, somente para fazer sucesso.

Já na parte final, Books pensa em uma forma mais honrosa de morrer, marcando um encontro com três antigos inimigos em um saloon e já prevendo o resultado final, pois carrega duas pistolas com seis balas cada – anteriormente, ele mostra que em casos normais deixa uma das câmaras do tambor do revolver sem bala para não atirar por acidente. Assim, ele mata todos os três, um de cada vez, mas fica claro que a doença está o afetando e que os tempos estão mudando, acabando por levar vários tiros, mas apenas morre quando leva um tiro do barman pelas costas. Gillom Rogers (Ron Howard), filho de Bond e grande admirador de Books, mata o responsável pela morte do ídolo e joga sua arma para longe, deixando claro sua vontade de não se envolver e nem seguir os mesmos passos foras-da-lei de Books.

O consagrado diretor Don Siegel faz de O Último Pistoleiro um ótimo faroeste, demonstrando os tempos finais de um pistoleiro e também as mudanças ocorridas em um país retratado por muitos trabalhos do gênero como “ausente de leis”, idealizando uma modernização em que os velhos caubóis não tinham mais espaço. Fora, ainda, sobre o perigo do câncer, doença sujeita a atacar qualquer pessoa, até mesmo um famoso e durão pistoleiro, forte como um touro e valente como John Wayne.

MINHA NOTA:

POR THIERRY VASQUES.

Um comentário:

  1. Se formos atentar para a carreira de Siegel, vamos encontrar preciosidades que ele criou quase que seguidamente.

    Não posso considera-lo um diretor normal, comum, de compasso paralelo a muitos outros.
    Vejo-o como um cineasta especial, de uma visão profunda em tudo o que fez, uma pessoa com base formada em suas convicções e que na soma, terminou por nos dar presentes como;
    - O Estranho Que Nós Amamos
    - Os Abutres Têm Fome
    - Os Impiedosos
    - Vampiros de Almas
    - O Homem que Burlou a Máfia
    - Os Assassinos
    - Rebelião no Presidio
    - Alcatraz, Fuga Impossível e, mesmo seu primeiro trabalho, acredito, Justiça Tardia, onde apresenta um tema muito raramente utilizado pelo cinema, e onde se sai muito bem como uma primeira incursão no cinema, sem, no antanto, nos mostrar a maestria com que pontuaria, a partir dalí, sua bela carreira.

    Quando ele fez O Ultimo Pistoleiro (um titulo acima de adequado e util ao filme, segundo fala de um amigo comentarista, o Paiva), parecia que o Siegel estava a anunciar uma tragédia que vinha a caminho.
    E não ocorreu diferente; fez um filme seguro, duro, perfeitamente interpretado, com o carisma de dois dos mais respeitosos astros do cinema (Jimmy e Duke) e podemos até dizer tres, pois o Boone, sempre perfeito, completa um cenário onde o desfeche é o que a vida real havia ordenado num programa do qual não se tem fuga.

    Quem não assistir a O Ultimo Pistoleiro, vai deixar de assistir a um filme sentindo a dor que nós, amantes do idolo, sentiamos à proporção que a fita se desenrolava.
    E se observaratentamente aos movimentos quase indisfarçãveis que a fisionomia do Stewart, médico procurado pelo Duke para se queixar do seu mal, fazia ao tratar e fitar o paciente, seu velho amigo que rumava para o outono de sua vida.

    Perfeita obra, momento acima de adequado para ela sair, titulo mais que discreto e oportuno, astros nos seus devidos lugares e interpretações convictas e muito que dentro de uma dura, clara e impossivel de fugir realidade.
    jurandir_lima@bol.com.br

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