22 de dezembro de 2012

Retrospectiva Cangaço | Crítica: Corisco, o Diabo Loiro

 CORISCO, O DIABO LOIRO

Escrito e dirigido por: Carlos Coimbra
Elenco: Maurício do Valle, Leila Diniz, Milton Ribeiro...
Ano: 1969
Duração: 100 minutos

Adentrando na história de um dos maiores nomes do cangaço, Carlos Coimbra não hesita em deixar transparecer os dois lados da moeda.

Análise: Corisco, o Diabo Loiro é um filme de cangaço que relata a real história de um dos grandes nomes do antigo sertão nordestino: Corisco, que, além de comparsa de Lampião, também mantinha uma parceria com sua mulher, Dadá, a qual é captura logo no início da película. Mostra-se, assim, uma narrativa pouco comum, ao desenvolver o passado das personagens por meio de lembranças que eles têm enquanto são levados para a prisão. 

A história começa com Dadá (Leila Diniz) cortando o cabelo de Corisco (Maurício do Valle), ambos decididos a deixar o cangaço após a morte de Lampião (Milton Ribeiro). Porém, quando o casal está saindo do Ceará, é emboscado pelos volantes do tenente Rufino (Turíbio Ruiz), sendo que Dadá leva um tiro na perna e Corisco é gravemente ferido por uma metralhadora. Durante o caminho para a prisão, a dupla recorda, por meio de flashbacks, como foram parar nesta vida de sangue e insegurança. 

As memórias mostram todo o passado de Corisco, o qual iniciou sua vida como cangaceiro matando dois soldados que espancaram seu tio e castraram seu primo. Já pertencendo aos cangaceiros, ele se apaixona por Dadá quando esta tem apenas 13 anos, e não quer levar a injusta vida por entre matas e perigos. Ela só passa a andar com Corisco quando este se une a Lampião, após conhecer Maria Bonita, que permite que os homens andem com suas respectivas mulheres. Com o tempo, Dadá se acostuma nessa vida, inclusive mostrando coragem e sendo a única mulher a pegar em armas no bando. Corisco mostra ser um homem inteligente e, portanto, quer o mesmo de sua mulher, ensinando-a a escrever e repreendendo falas grosseiras. 


Um dos momentos mais marcantes é quanto Lídia (Geórgia Gomide) trai Zé Baiano (Antônio Pitanga) com Bem-te-vi (John Herbert), e Lampião dá o direito de Zé Baiano punir sua mulher como bem entender; então, ele a deixa uma noite pendurada no tronco e, ao amanhecer, cava uma cova em sua frente, espancando a mulher com um pedaço de madeira até a morte – para ele, esse é o preso de uma traição. Outra situação nada difícil de esquecer é o fogo cruzado que a população vive, recebendo pressão e sendo torturados, em busca de informações tanto pelos soldados quanto pelos cangaceiros.

Como comprovado em um diálogo entre Dadá e o tenente Rufino, o diretor Carlos Coimbra associa uma visão imparcial com relação ao cangaço, entendendo que tanto os volantes quanto os cangaceiros são iguais, muitas vezes matando sem necessidade, apenas pela influência em determinado pedaço de terra:

Dadá – Vivi no cangaço pela mesma razão que o tenente vive na volante. Matando, fugindo, vingando, não aceitando cabresto de coronel. A diferença é que macaco vive escorado na lei e é promovido toda vez que corta cabeça de cangaceiro. 
Rufino – Cangaceiro é bicho, soldado é caçador. 
Dadá – Caçador mata também, às vezes sem precisar. 

Tem-se aqui um ótimo filme, com uma grandiosa história mostrando o percurso de um dos maiores nomes do cangaço e abrangendo muito bem os detalhes da época, desenvolvendo também os dois lados da moeda e os personagens com atuações cativantes.

MINHA NOTA: 
POR THIERRY VASQUES. 

2 comentários:

  1. Todos estes filmes de cangaço foram feitos justamente na época em que mais eu via filmes na vida, cerca de um por dia em média. E isso no cinema, onde eu via todos os filmes da semana e os repassava quando via o ultimo lançamento. Era vicio mesmo da sétima arte.

    E Carlos Coimbra foi um diretor de linha um. Tudo onde ele meteu a mão deu certo, não apenas como diretor,mas como roteirista e produtor.

    Independencia ou Morte, essa pequena joia rara de tão bem feito do nosso cinema, surgiu de suas mãos. Os melhores filmes, naturalmente que excetuando-se O Cangaceiro/53, que é a magnificiencia em termos de filmes do genero e não entra na comparação.

    No entanto podemos ver o que saiu de suas mãos dentro do genero; Dioguinho (o único que não vi), A Morte Comanda o Cangaço, Cangaceiros de Lampião, Corisco o Diabo Loiro, A Morte Comanda o Cangaço.

    Vivo procurando Dioguinho para comprar, alugar ou o que seja, já que consegui ver o trilher e me encantei. Mas não o pude ver por questão etária. E ele nunca mais passou em qualquer TV ou cinema.

    Perfeito que ora não recordo de cada filme dele nem de nada a respeito deles. Sei porém que eram bons porque tenho anotações de seu tempo e lhes punha boas notas.

    Estranho como o Canal Brasil, um canal dedicado exclusivamente ao cinema brasileiro, jamais passou qualquer filme dele senão Independencia ou Morte.

    Mas, tenho certeza que, assim como os demais citados, Corisco, O Diabo Loiro foi uma das belas peliculas que sairam de suas mãos, de uma forma ou de outra.

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Meu caro este filme Dioguinho do Carlos Coimbra não existe mais cópias e no papel principal tinha Hélio Souto e como o irmão do bandido o ator John Herbert.

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