12 de fevereiro de 2011

O mundo cinematográfico de Sam Peckinpah

O MUNDO CINEMATOGRÁFICO DE SAM PECKINPAH.

Para que possamos definir quase que completamente o mundo cinematográfico de Sam Peckinpah – importante diretor que foi esquecido e até mesmo desprezado por Hollywood – é preciso de apenas três palavras: polêmica, realismo e violência. “O poeta da violência” – como era conhecido –, Peckinpah tinha esse apelido devido ao seu estilo de filmagem, sendo como um “precursor do slow motion”, efeito utilizado em cenas que necessitavam de mais emoção, como tiroteios. E este tal apelido de Peckinpah poderia ser facilmente herdado por diretores de hoje que se inspiram nele e também adoram a arte da violência. Um fácil e preciso exemplo é Quentin Tarantino, mostrando isto em suas principais obras-primas como “Kill Bill” (2004) e “Bastardos Inglórios” (2009). Tarantino é também fã declarado de faroeste, gênero que colocou Peckinpah no auge das discussões, e que acima de tudo, ainda o coloca, apesar de que atualmente o trabalho do diretor é mais reconhecido do que antigamente.
Mesmo quando fez “Meu Ódio Será sua Herança” (1969), o qual foi o seu filme de maior destaque – inclusive concorreu ao Óscar de melhor roteiro original feito pelo próprio diretor –, a crítica não o recebeu bem, devido à intensa violência que é mostrada. Para que se tenha uma noção desta violência, apenas na última cena do filme foram gastos mais de doze dias e mais de dez mil balas de festim. Se isso aconteceu apenas na cena final, imagina em todo o filme, onde os tiroteios ocorrem a quase todo momento?! Mas por outro lado, é aí que também entra o toque do diretor: sem medo em colocar suas ideias em prática, sem medo do resultado final, porém sabendo que ali tem a magia do diretor. Outro detalhe que não foi dito ainda é que, por trás de toda esta violência, Peckinpah se inspira na Revolução Mexicana para fazer a base da película. Como nessa época as mudanças eram constantes, podemos ver isso claramente: enquanto oscowboys acabavam, os homens de terno estavam apenas nascendo. Assim como a areia dos desertos davam lugar aos asfaltos; os cavalos aos carros; e as armas... Bem, as armas comuns, de seis tiros, davam lugar às metralhadoras, às pistolas e muitas outras com mais poder de fogo!

Mais tarde, em “A morte não manda recado” (1970), percebemos um Peckinpah abalado, talvez por causa das críticas de seu trabalho anterior. Apesar do nome do filme parecer um tanto quanto horripilante, não possui nenhuma ligação com a película em si. Aliás, o diretor chegou mais perto de uma comédia romântica do que de um “faroeste propriamente dito”, com tiros para todos os lados e coisas do gênero. Até pareceu que o diretor encarou o trabalho como um humor da época de Charles Chaplin, incluindo trapalhadas e sarcasmo. Porém, após este diferente trabalho por parte de Sam Peckinpah, o diretor voltou a filmar em 1971 ao seu maior estilo “Peckinpah de dirigir”. Polêmica, realismo e violência acompanham outro de seu maior filme: “Sob o domínio do medo”. O trabalho foi por fora das telas um fracasso de crítica e público um tanto maior quanto o seu primeiro, acredite! Para penalizar Peckinpah, foi preciso que o filme fosse proibido em vídeo na Inglaterra (local das gravações) até o ano de 2002. Visto isso, em 2003 o filme estava brilhando como algo novo. A Criterion Collection, distribuidora de vídeo dos Estados Unidos, reeditou a película, deixando-a como merece: mais incrível que a original.

Após a produção de “Sob o domínio do medo”, Peckinpah realizou mais dois filmes antes de polemizar outra vez: “Dez segundos de perigo” e “Os Implacáveis” (ambos de 1972). Em “Os Implacáveis”, o diretor conta com o renomado ator Steve McQueen. O filme não passa de clichês do gênero “tiro, fuga, policial e ladrão”, que na linguagem da sétima arte pode se resumir simplesmente em... “ação”. Bem, é claro que Peckinpah não deixou de colocar suas mãos para trabalhar e deixa sobre nossos olhos as suas principais características no resultado final: câmeras lentas, além de cortes rápidos e precisos.

Já em “Pat Garrett & Billy The Kid” (1972), o diretor contou com a sempre companheira Polêmica ao seu lado. Enquanto o diretor modificava o roteiro de Rudy Wurlitzer, o cantor country Kris Kristofferson entrava para o elenco e ainda puxava a então mulher Rita Coolidge e o amigo Bob Dylan para fazer uma ponta na película. Falando em Bob Dylan, temos que aplaudi-lo, pois além de atuar muito bem, o compositor ainda preparou toda a trilha sonora, a qual também é espetacular. O clássico de Dylan “Knockin’ On Heaven’s Door” faz aparição na cena mais emocionante e cativante da película: um tremendo tiroteio entre Pat Garrett (representado por James Coburn) e um velho amigo. Mas agora você deve estar se perguntando: “E onde entra a polêmica?”. A polêmica entra exatamente na produção: os produtores pressionavam Peckinpah para que o filme fosse terminado o mais rápido possível, fazendo com que as gravações se transferissem para Durango, no México. Além disso, o filme foi mais prejudicado ainda quando o estúdio adulterou o mesmo, teve seu tempo estourado e os orçamentos cresciam cada vez mais. A tradução de tudo isso é o grande fracasso de público e crítica, acrescentando mais uma polêmica na conta de David Samuel Peckinpah.
Já no ano de 2004, um documentário sobre o diretor foi lançado (“O Oeste de Sam Peckinpah: O Legado de um Renegado de Hollywood”), mostrando como Peckinpah mudou o cinema e principalmente o “gênero americano por excelência”, como definiu o crítico francês André Bazin, fazendo referência ao famoso bang-bang. Conta com raras entrevistas de Sam e participações do cantor e ator Kris Kristofferson, além do diretor Billy Bob Thornton. Foi dirigido por Tom Thurman e venceu o prêmio de melhor documentário do Festival Bronze Wrangler, dedicado principalmente para premiar artistas diversos do mundo western, tanto do meio cinematográfico quanto do meio musical e literário.

POR BRUNO BARRENHA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário