8 de outubro de 2011

Crítica: Duelo de Gigantes

THE MISSOURI BREAKS

(DUELO DE GIGANTES)

Direção: Arthur Penn

Roteiro: Thomas McGuane

Produção: Elliott Kastner e Robert M. Sherman

Ano: 1976

Elenco: Jack Nicholson, Marlon Brando, Kathleen Lloyd...

Duração: 126 minutos

Você já foi capaz de imaginar um western com os maiores astros de Hollywood da década de 70? Ei-lo aqui...

Análise: Sem nenhuma sombra de dúvida, os anos 70 foram uma das maiores épocas de ouro para a indústria cinematográfica, alavancando sucessos que iam desde O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972) até Um Estranho no Ninho (Milos Forman, 1975). Além destes dois habituais exemplos, tal década ainda foi recheada de outros clássicos que marcaram a história da sétima-arte, como os últimos trabalhos do processo de devastação e despedida não oficial do western spaghetti, nos quais se inclui principalmente o excepcional Keoma (Enzo G. Castellari, 1976).

Entre os dois primeiros filmes citados acima, seus protagonistas (Marlon Brando e Jack Nicholson, respectivamente) eram duas das maiores estrelas de Hollywood e, curiosamente, venceram o Oscar por seus papéis. Posterior ao sucesso que tiveram em seus devidos projetos, ambos os atores estariam unidos pelas mãos do entusiasta diretor de faroestes Arthur Penn, em justamente um filme do gênero. O único problema de tudo foi que os atores deixaram-se levar pelo estrelismo e literalmente iniciaram um duelo de gigantes entre eles, deixando de gravar cenas que estariam juntos e nem fazendo qualquer tipo de contato durante as gravações. Fora isto, o choque de salários foi enorme, com um pedindo mais que o outro. Uma tradução de todo este alvoroço: o que era pra ser um enorme sucesso terminou em um fracasso!

Ao som da amargurada e relevante trilha sonora de John Williams, o filme começa de forma impecável.

Como o próprio título original do filme demonstra, a trama se passará na região do Rio Missouri, em Montana. Tom Logan (Nicholson) é o personagem central e também comandante de um bando que, de forma importuna, não conseguia realizar qualquer tipo de roubo (nem de bancos, nem de gados e nem de trens). Aliás, uma situação envolvendo um roubo de trem pela quadrilha de Logan é inesperadamente divertida: primeiro ele se passa por Jesse James, coisa que ninguém acredita; segundo que, ao sair do trem, ele está em um penhasco e todo o saco de dinheiro vai pelos ares.

Definitivamente sem sucesso em seus assaltos, a gangue aponta o furto de cavalos como nova solução para a busca da sorte! A presa escolhida é o rico possuidor de terras e gados David Braxton (John McLiam), pai de Jane Braxton (Kathleen Lloyd), a qual posteriormente passaria seu tempo enrabichando-se com Logan.

Mas então você deve se perguntar: em qual parte da história entra o eterno Don Corleone? Pois bem... Ao saber de que estaria sendo alvo de bandidos, Braxton contrata o regulador – uma espécie de aniquilador – de nome Robert E. Lee Clayton (até que enfim Brando). Seu papel é deveras imprevisto por todos, já que apresenta tons divertidos e delirantes, bem diferentes de seu mais marcante trabalho no cinema, pela série de O Poderoso Chefão.

Juntamente com o áspero espírito de Lee Clayton, também vem a atroz representação da violência pelas câmeras de Arthur Penn: desde a morte dos atores até as de animais. A principal delas está no fim e se torna apavorante até demais ao vermos – por um ângulo lateral – um indeterminado objeto pontiagudo de Clayton penetrar pelo olho de Calvin (Harry Dean Stanton). Apesar de tudo, esta é mais uma das características do diretor Arthur Penn, já experiente em faroestes e que anteriormente havia realizado Pequeno Grande Homem, com outro astro (Dustin Hoffmann). Mas, em Duelo de Gigantes, ele não consegue lidar com Brando e deixa o ator muito livre para fazer o que bem entende; para compensar, ele colhe boas atuações que não se esperariam do resto do elenco. Outro fato que inova o ar de sua direção é o conjunto formado com a atraente fotografia de Michael Butler, emaranhando planos abertos a contemplativas paisagens. Por último, a trilha sonora de John Williams, o mesmo compositor de Tubarão (Steven Spielberg, 1975): seu trabalho aqui é muito interessante, alternando a música de acordo com a situação apresentada na tela.

Como era de se esperar, um diálogo afiado e bem-sucedido entre os personagens Lee Clayton (Brando) e Tom Logan (Nicholson).

Mesmo possuindo em seu elenco e na direção nomes arrasadores da sétima-arte, o filme não agrega a alcunha de “obra-prima” que deveria e, mais além que isto, não passa de um resultado mediano. Até a parte final, o filme não possui o gás necessário para fazer efeito em seus espectadores, se estendendo e criando alguns soníferos. As gags talvez sejam o que nos mantenham acordado, porém em algumas partes não funcionam da maneira mais correta possível. Em último lugar e o que mais chama a atenção ao olhar para a ficha de Duelo de Gigantes: Jack Nicholson e Marlon Brando não repetem a dose de seus trabalhos que os consagraram como dois dos maiores atores de Hollywood, faltando inspiração e sem um resultado certo de quem realmente venceu... Por maior estrelismo, é claro!

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

2 comentários:

  1. Talvez eu tenha perdido alguma coisa, mas alguns diálogos desse filme (principalmente do Marlon Brando) me pareceram muito absurdos, sem nexo. Isso foi o que mais me deixou cabreiro. Eu conseguia enxergar o dedo de Arthur Penn no realismo de algumas cenas, no lado cômico de outras e na violência explícita que vez ou outra pipocava na tela, mas chega um certo momento que o filme toma um rumo obscuro. A proposta e o estilo parecem mudar radicalmente. Estes diálogos esquisitos talvez sejam a forma mais visível dessa mudança para mim.
    Você vê que a história tem uma premissa bem interessante e conta com grandes atores, mas mesmo assim algo desanda. Talvez Penn tenha contado com o ovo enquanto ainda estava dentro da galinha e quebrou a cara...

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