10 de março de 2012

Crítica: A Um Passo da Morte

INDIAN FIGHTER

(A UM PASSO DA MORTE)

Direção: André De Toth

Roteiro: Frank Davis e Ben Hecht

Produção: William Schorr

Ano: 1955

Elenco: Kirk Douglas, Elsa Martinelli, Walter Matthau...

Duração: 88 minutos

Falta de visão em um olho não é problema para De Toth. Aliás, ele consegue enxergar muito mais além que muitos outros cineastas!

Análise: Uma das circunstâncias mais irônicas (e icônicas!) já observadas no interior do universo cinematográfico vai direto para a conta do cineasta húngaro André De Toth, o qual adquiriu maior notoriedade pelo eminente fato de ter realizado o primeiro e mais bem sucedido filme em 3D e a cores da história de um grande estúdio norte-americano (no caso, a Warner Bros.): The House of Wax, com a participação do astro do terror Vincent Prince, no ano de 1953. Até o que foi contado, não há nada de tão esquisito, porém vale acrescentar que, muito acima de tal façanha, o diretor perdeu a visão de seu olho esquerdo ainda quando jovem, impossibilitando-o de enxergar em três dimensões e, consequentemente, não tendo recebido os efeitos de sua própria fita.

Porém, transcorridos dois anos da realização deste marco na história da sétima-arte, o “cineasta caolho” (e também um dos mais célebres de seu país) partia então para a realização do faroeste Indian Fighter, intitulado no Brasil como A um Passo da Morte, e que conta com a presença do sempre expressivo Kirk Douglas no papel principal. Certamente, não tinha como dar errado!

Sem quaisquer tipos de delongas, Indian Fighter já se introduz a todo vapor depois de passados os peculiares créditos – revestidos pela melodia que exala uma sensação de quietação, pela visão das árvores que se agitam e do rio por onde correm águas límpidas, pelo céu impoluto e desanuviado. Tudo mostrado através de um mesmo plano, o qual mais tarde nos revelaria – em um movimento de câmera – a presença da protagonista Onahti (Elsa Martinelli) à beira do dito riacho, preparando-se para um banho. Enquanto faz sua ação, outro personagem dá as caras: é o valente e galanteador Johnny Hawks (Kirk Douglas), cavalgando em direção à tribo de seu amigo indígena Nuvem Vermelha (Eduard Franz). Somente mediante este trecho é possível perceber como se dá excitante o início do filme.

“Me devolverá os búfalos que a sua gente matou? Limpará os ribeirões que os seus sujaram procurando o ferro amarelo? Devolverá a beleza da terra? Já tenho a única riqueza que quero... A que vê em nós!”

Como de praxe entre os mais clássicos westerns norte-americanos, o principal “ponto de atrito” na história de Indian Fighter será o conflito entre os homens brancos e os peles vermelhas, tendo como o centro das atenções o apaziguador da situação, Johnny Hawks. A citação narrada acima – pelo chefe Nuvem Vermelha quando este conversava com Hawks – não só é um exemplo de como o filme irá tratar este sensível assunto com destreza, mas também um modo de colocar o ponto de vista indígena sobre tal complicação que assolou os Estados Unidos.

Contudo, o motivo por levar ambos os grupos ao atrito não são apenas questões históricas, mas sim o desejo pela posse do ouro – que é de total domínio indígena no filme. Entre questões de trocas, trapaças e traições se constituirá um complexo passatempo de “gato e rato”, sendo que nenhuma das duas partes (nem homens, nem índios) têm os mesmos objetivos que a outra.

- Quantos índios matou?

- O suficiente para me manter vivo.

E, adicionando frases de efeito como esta é que o roteiro vai ganhando forma e compondo a estrutura narrativa de Indian Fighter; o trabalho de escrita da dupla Davis-Hecht é ainda fundamentado na história do autor Robert L. Richards, como era bastante comum no antigo gênero do velho-oeste. Hoje em dia ainda se sustentam algumas pouquíssimas obras adaptadas às telonas, como por exemplo, o último trabalho dos irmãos Coen: Bravura Indômita (True Grit, 2010).

Franz Waxman assina responsavelmente a composição da trilha sonora, baseando suas canções em relação com a situação vivida nas telas: os romances são retratados a partir de canções melódicas e profundas, as aventuras se tornam intensas devido à veemência das batidas musicais, as tensões agregam ruídos naturais e instrumentais, etc.

Já a direção de fotografia, por Wilfred M. Cline, aposta em planos mais abertos e gerais, para tentar criar uma sensação de liberdade e também impor completamente o cenário na mente dos espectadores. As paisagens montanhosas e arborizadas peculiares de determinadas regiões estadunidenses ainda acrescentam o clima mais calmo, sem as nuvens poeirentas e vermelhas – características do Monument Valley.

A listagem de atores, distribuída desigualmente entre o onipresente Kirk Douglas e artistas de baixa qualidade e reconhecimento, acaba por se render ao brilhantismo e habilidade do personagem principal. Com exceção de Lon Chaney, Elisha Cook e mais alguns poucos atores, o resto do elenco não seria capaz de salvar o filme.

Normalmente, os minutos iniciais de uma fita são calmos, com uma apresentação de atores mais cautelosa e uma publicação da história sendo mais meticulosa e reflexiva ao decorrer do tempo. Porém, partindo do princípio em que tal projeto se trata de apenas mais um dos filmes B de André De Toth, o quebra-cabeça imposto pelos roteiristas Frank Davis e Ben Hecht precisa ser construído da forma mais apressada possível, desenvolvendo a história e seus derivados sem enrolação nem tempo para delírios. O resultado, portanto, só pode ser a curta duração para um longa-metragem (1 hora e 25 minutos) em conjunto com a diversidade para um jeito diferente de se fazer cinema.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

5 comentários:

  1. Um ótimo Western, um dos melhores estrelados por Kirk, muito embora longe de ser um clássico.

    Parabéns para a equipe deste blog, um espaço organizado e inteligente, que merece estar em meu blogroll.

    Saudações

    Paulo Néry
    Filmes Antigos Club Artigos
    http://www.articlesfilmesantigosclub.blogspot.com/

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    1. Realmente, um western muito bom, porém deixando de ser considerado "clássico". Kirk Douglas está soberbo, como a maioria de suas atuações!

      Obrigado pelo elogio, fico satisfeito com os adjetivos postos por sua pessoa. Dei uma passada pelo seu blog, e também é ótimo - uma grande fonte de informações aos amantes do essencial cinema antigo!

      Saudações, volte sempre.

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  2. Parabéns pela proposta do BLOG, pois nada mais justo do que um gênero basilar da história do cinema sedimentado na (boa) escrita de seus dois autores.

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  3. Primeiro, parabéns pelo blog. Está se tornando a minha nova página preferida. Segundo, grande análise. Eis um filme que me prendeu, mesmo não sendo um dos mais promissores de Douglas. Me surpreendi com um Walter Matthau novinho e um Lon Chaney decadente. O roteiro também explora muito bem o outro lado da conquista do Oeste, o lado do indígena, ainda que ele não se aprofunde muito nisso (afinal, o branco continua sendo o protagonista).

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    1. Vinicius, não sabe como é gratificante ler tais palavras. Apenas nos faz continuar amando o nosso "trabalho", ter o desejo de nunca parar - e, quem sabe, até seguir carreira.

      Realmente, o roteiro explorador de novas visões na Conquista do Oeste é um dos destaques, visto que os atores não estão lá grandes coisas. Foi uma boa observação sobre os indígenas, feita por você.

      Abraços. Volte sempre!

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