23 de outubro de 2010

Era uma vez no Oeste

Era uma vez no Oeste

(Once Upon a Time in the West)

Direção: Sergio Leone

Roteiro: Sergio Donati, Sergio Leone, Bernardo Bertolucci, Dario Argento

Produção: Bino Cicogna e Fulvio Morsella

Ano: 1968

Elenco: Charles Bronson, Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale…

Duração: 165 minutos

Se alguém ainda duvida da genialidade de Sergio Leone ainda não assistiu à sua última trilogia, a qual este filme está incluído.

Análise: Sergio Leone começa uma nova trilogia. Novamente espetacular, porém deixando de trabalhar com Clint Eastwood e outros atores renomados do cinema western. Pra variar, Leone também revelou outros atores que serviriam para o o gênero, como Charles Bronson, o qual estaria neste filme para substituir o protagonista da anterior trilogia (Clint). Sergio Leone também mostra, nesta trilogia, mais uma de suas características - que já havia sido apresentada em “Três Homens em Conflito” -, os filmes compridos. Todo mundo diz: “Quantidade não é qualidade”, mas, nos filmes de Sergio Leone esta frase não poderia ser aplicada. O diretor italiano não mudou seu estilo de dirigir, usando sempre suas características principais (largos momentos silenciosos, muita tensão e grandes impactos). Também não mudou a trilha sonora. Sim, é o ragazzo Gennio Morricone quem aparece. De novo, a trilha sonora de um filme de Leone é fantástica. E, se vocês perceberem, Sergio Leone sempre deu atenção a este recurso, às vezes tão importante quanto às próprias imagens dos filmes. Em “Era uma vez no Oeste”, o diretor italiano utilizou uma música para cada personagem, por exemplo, em uma cena que aparecia o personagem Gaita, sua música-tema era tocada. Também deu mais importância aos volumes da natureza, já que não existiam muitas falas no filme em geral; algumas vezes acabaram aparecendo o volume dos pássaros e do vento ao fundo, além dos tiros que eram disparados.

Algo que diferencia este filme dos outros de Leone é a plástica usada pelo diretor. Ele demorava o tempo que era preciso para encontrar UM plano de câmera, em busca do máximo perfeccionismo. O caráter perfeccionista do diretor ia mais além ainda: para ter noção, ele via com todos os detalhes o pó das roupas dos personagens. Sergio Leone mostra - além da própria história do filme - a história da industrialização, com a construção de estradas de ferro e outras tecnologias que surgiam na época. As filmagens aconteceram no lendário cenário de Monument Valley, Estados Unidos. Era um dos locais preferidos do também lendário John Wayne.

A cena inicial é, em minha opinião, uma das mais perfeitas dos filmes de Sergio Leone: mostrando em apenas uns minutos a sua genialidade. Três homens chegam a uma estação de trem; não se sabe o que querem. Os três param e por um longo tempo fazem ações diferenciadas. Enquanto um senta na cadeira, outro vai para baixo de uma caixa de água e o outro fica de pé, parado. O som das imagens passa a ser fundamental. O homem sentado começa a ser atrapalhado por uma mosca, a qual consegue ser tão chata no filme quanto na vida real; gotas de água pingam na cabeça do homem embaixo da caixa de água. As imagens vão se alternando, os sons também. Tudo isso acontece em uma única cena, sem fala alguma. O que falar de Sergio Leone? Não há palavras.

Já outras cenas surpreendem pelo tamanho de tensão que carregam ao mostrar seu desfecho. Também é o caso da cena inicial - porém mais adiante da cena descrita acima - em que “O Gaita” (Charles Bronson) aparece atrás de um trem, após o som de seu instrumento soar. Acontece a mesma coisa quando ele está no escuro de um bar e um homem com algemas (Cheyenne) sacode o lampião para vê-lo, sentado e tocando sua gaita. Após esse momento, Cheyenne pega a pistola que estava em cima da mesa e joga aos pés de Gaita, perguntando ironicamente: “Você sabe tocar música ou sabe atirar?” Gaita apenas vira o revólver para o homem e volta a tocar. Para completar a cena, o homem com nome de instrumento vê o casaco de um dos membros da gangue de Cheyenne e uma conversa é aberta:

Cheyenne – Você se interessa pela moda, Gaita?

Gaita – Uma vez vi três casacos como esse, esperando por um trem. Dentro deles, havia três homens.

Cheyenne – E daí?

Gaita – Dentro dos homens havia três balas.

Não há o que dizer, apenas: uma cena completamente perfeita! Quando fala a respeito dos homens, Gaita se referia à parte inicial do filme, em que três homens se confrontam com ele e então levam um tiro cada. Como vocês já devem ter percebido Sergio Leone sempre utilizou um humor ácido - não só neste - mas também em outros filmes, porém é neste em que este recurso fica mais aparente. O motivo disto não é tão complicado de se explicar, já que em um filme de faroeste o que mais predomina nos diálogos são as gozações frequentes dos personagens. Uma mudança de Leone neste filme foi à importância de uma mulher em seu roteiro: o italiano nunca havia dado um papel tão importante para uma mulher em qualquer um de seus filmes. Para este, Claudia Cardinale foi a responsável por desempenhar o papel de uma ex-prostituta que saiu de Nova Orleans para casar-se com um rico homem, Brett McBain. Porém, quando chega na casa de seu futuro marido, todos haviam sido mortos, inclusive seus filhos.

Sobre o final, acho que nem preciso comentar nada. Todos os filmes de Sergio Leone possuem um final fantástico. Especialmente os de faroeste, com duelos de tirar o fôlego. Com “Era uma vez no Oeste” isto não foi diferente. É conferir no vídeo:

Logo em seu lançamento, “Era uma vez no Oeste” não ganhou sucesso esperado, o que culminou no corte de algumas cenas, diminuindo o filme em 20 minutos. Foi o primeiro da nova trilogia de Leone, antes de “Quando Explode a Vingança” e de uma das maiores obras-primas do diretor italiano: “Era uma vez na América”. Como dito na minha análise anterior, “Era uma vez no Oeste” está empatada com “Três Homens em Conflito”.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME: 11.

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

6 comentários:

  1. Ei, vocês trouxeram um cavalo pra mim?

    Deixa ver se eu saquei: vocês são esses garotos das fotos e do curta?... Tão falando sério?! A não ser que eu seja um tiozão muito do ingênuo (e vocês tenham bem mais idade do que aparentam), é preciso que se diga duas coisas: nunca se separem e façam cinema! A não ser que vocês sejam adultos com sérios problemas, fingindo ser meninos, é preciso dizer também que vocês estão muito, muito acima da média ... a não ser que eu tenha estado um bocado abaixo dela nesses 38 anos. Há muito que me interesso por cinema, mas só agora começo a esturda roteiro. Conhecem DA CRIAÇÃO AO ROTEIRO, do Doc Comparato? Estou estudando esse livro, pra começar. Finalmente, a externa/estação de trem/dia, em UNCE UPON A TIME IN WEST é uma cena na qual penso todos os dias (às vezes assisto apenas a ela). Não fiquem putos por eu riscar esse post-testemunho aqui; teria enviado para os e-mails de vocês ou via orkut (ok, ok, também existe facebook, mas deu preguiça de sair da tela). Vida longa ao blog e a vocês (espero ler seus nomes n'algum "créditos", quando eu crescer). josiahfilho@gmail.com

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  2. Um dos meus filmes de cabeceira, revi esse fim de semana e ainda sim me surpreendo com cada take !!!

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  3. Como era o nome do Charles Bronson no filme? Chayenne antes de morrer chamou-o de Mônica. O.o
    Ou será que a dublagem não foi das melhores?

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    1. O nome dele era Harmonica ("gaita", em português).
      Acredito que não era a dublagem, amigo, mas sim seu ouvido.

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  4. Dublagem? Quem tem coragem de assistir a esse filme dublado? Aliás, deveria ser proibido dublar filmes. Perde-se a metade da obra.

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    1. Tem minha assinatura. Certinho, companheiro.
      Porém há exceções, obviamente, como animações.

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