6 de agosto de 2011

Crítica: Paixão dos fortes

MY DARLING CLEMENTINE

(PAIXÃO DOS FORTES)

Direção: John Ford

Roteiro: Samuel G. Engel e Winston Miller

Produção: Samuel G. Engel

Ano: 1946

Elenco: Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature...

Duração: 97 minutos

Célebre tiroteio ocasionado no “O.K. Corral” é retratado mitologicamente em forma de romance e aventura pelo audacioso diretor John Ford.

Análise: Ao tomar como pauta cinematográfica o afamado tiroteio ocorrido na região de Tombstone (ou no famoso O.K. Corral) entre os amigos Wyatt Earp e Doc Holliday contra a família Clanton no longínquo ano de 1881, logo temos em mente balas voando para todos os lados, rápidos cortes de câmera, uma música eletrizante ao fundo, pessoas sendo atingidas, etc... Mas também vale relembrar que isso poderia ser filmado tempos depois: naquela época, nem pensar! Até porque o filme foi realizado justamente depois do término da Segunda Guerra Mundial. Fora isso, o cinema hollywoodiano nem sequer permitia a gravação sem corte de um plano com a arma sendo tirada do coldre de um pistoleiro e atingindo o adversário. É por estas e outras que na versão do diretor John Ford predomina aquele charme do romantismo norte-americano, mas sem esquecer as épicas cenas de ação idolatradas no país, é claro. O que realmente quero dizer com tudo isto é que não nos focamos apenas no duelo final entre as gangues e sim que estamos diante do outro lado da moeda neste importante capítulo na história dos Estados Unidos e, mais especificamente, do faroeste!

Inacreditável vídeo encontrado no Youtube, mostrando a relação da equipe de Paixão dos Fortes atrás das câmeras durante a gravação. E mesmo o filme sendo em preto-e-branco, acima temos registros coloridos!

Sem John Wayne – o eterno parceiro de Ford – infiltrado no projeto de Paixão dos Fortes, quem dá conta do recado no papel principal é um dos mais conhecidos e fantásticos atores da época: o lendário Henry Fonda. A escolha de um ao invés de outro pode ser facilmente explicada no rótulo eternizado por Wayne como aquele cowboy durão e sem um espaço reservado ao romance, diferentemente de Fonda, o qual variava de bandido até mocinho em cada filme que fazia, e sem a preocupação de ficar marcado por ter atuado em um único posto dentro do mundo cinematográfico!

Baseado no livro de Stuart N. Lake, o filme basicamente conta sobre a vida adulta do delegado “Earp, Wyatt Earp” (como diz o próprio Henry Fonda em seu papel) que, após ter um de seus três irmãos assassinados por alguém desconhecido, se encontra na cidade de Tombstone como xerife, até que encontre o verdadeiro e cruel assassino. Unindo-se a ele, outros personagens reais que figuraram no período do velho-oeste aparecem, como seu amigo de idas e vindas John “Doc” Holliday (Victor Mature), a sua paixão Clementine (Cathy Downs), a prostituta Chihuahua (Linda Darnell), e os membros da família Clanton (Walter Breenan, John Ireland, Grant Withers, Fred Libby e Mickey Simpson). E é importante dizer que, além deste, muitos outros filmes já fizeram referência ao famoso tiroteio no O.K. Corral, como: Wichita (1955), Sem Lei e Sem Alma (1957), Tombstone – A Justiça está chegando (1993), Wyatt Earp (1994), e muitos outros.

Entre os três outros clássicos de John Ford – Stagecoach (1936), Rastros de Ódio (1956) e O Homem que matou o Facínora (1962) – este talvez seja considerado o pior. Entretanto, não leve isto como uma crítica negativa, pois, sem dúvida alguma, ainda consegue estar ao lado deles na questão sobre “os melhores westerns já feitos”. Fora a ótima direção de Ford, a fotografia de Joseph MacDonald também se destaca e é responsável por transcender belas imagens no maravilhoso preto-e-branco da época, novamente tomando como pano de fundo o extenso terreno de Monument Valley, o qual até se torna pequeno em suas tomadas devido à tamanha beleza do local. Enquanto isso, a trilha sonora de Cyril Mockridge não passa de regular, principalmente porque perde bastante espaço para a música-tema que leva o nome da película (My Darling Clementine). E então, por último, as atuações: nenhum dos atores deixa a desejar, já que conta com um elenco de bastante peso e isto é fundamental para que se tenha atuações concretas, destacando o papel principal com a presença de Fonda. Apesar disso, muitos outros personagens da película não foram muito bem explorados e desenvolvidos, só servindo ali na tela como parte da história e nada mais! Relativamente, une-se a um erro de roteiro...

Após muitas tentativas, o filme finalmente consegue dar partida de seu lugar e ir longe, mas até este ponto ele não passava de algo um tanto quanto demorado e cansativo; talvez este tenha sido o seu “maior” erro, e que mesmo sendo o “maior”, não tira nada de seu brilho espetacular. Já finalizando o filme, percebi que Paixão dos Fortes não pode ser considerado aquele inquietante clássico norte-americano, onde os tiroteios são constantes e o sossego não paira sobre a grande tela do cinema: ele é maior do que isso! Ele é mais do que uma história sobre o glorioso tiroteio de O.K. Corral que, segundo Ford, foi contada em uma conversa no ano de 1927 pelo próprio Wyatt Earp antes de morrer! E é então que vemos o propósito de John Ford, buscando demonstrar como realmente era a vida dos cidadãos estadunidenses naquela época em que tudo parecia ser tão devagar; e mais superior a este objetivo, temos sua exposição de maneira corajosa pelo fato de ter realizado um filme muito próximo ao fim da Segunda Guerra, onde tudo estava começando a se recolocar nos trilhos novamente...

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

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