3 de setembro de 2011

Crítica: Django - O Bastardo

THE STRANGER’S GUNDOWN

(DJANGO – O BASTARDO)

Direção: Sergio Garrone

Roteiro: Anthony Steffen e Sergio Garrone

Produção: Herman Cohen e Anthony Steffen

Ano: 1969

Elenco: Anthony Steffen, Paolo Gozlino, Luciano Rossi…

Duração: 107 minutos

A volta fantasmagórica do anti-herói mais copiado do cinema western.

Análise: A história de um dos anti-heróis mais populares na história do cinema western – Django – se iniciou no ano de 1966, em um filme que levava propriamente seu nome e era dirigido pelo então desconhecido diretor Sergio Corbucci, o qual colheu a fama e, juntamente a si, o seu personagem foi levado mundo afora por muitos outros realizadores. A partir de então, os trabalhos que levavam a alcunha do personagem se proliferaram, dando a ele enorme popularidade. Para que se tenha noção desta afirmação, além do primeiro projeto, foram lançados mais 30 títulos com o nome de Django, sendo que 27 habitaram entre os anos de 1966 e 1972; o resto passou por 1987 (com a volta de Sergio Corbucci), por 2007 (com o nipônico Sukiyaki Western Django) e passará por 2012 (no ainda não lançado Django Unchained, de Quentin Tarantino). Também passaram pelo papel do vingador 15 atores, nos quais mais se destacaram Franco Nero, Terence Hill, Tomas Milian e o ítalo-brasileiro Anthony Steffen. Apesar de tudo, pouquíssimos destes incríveis 31 títulos se tornaram sucesso e, dentre os poucos, um destes é justamente Django – O Bastardo, dirigido por Sergio Garrone no ano de 1969.

Como se sabe, a sensação de punição por um passado desconhecido (ou simplesmente descrito como vingança) é o principal tema abordado em toda a série de Django. Apesar de clichê em muitos outros filmes, este foi um dos únicos temas que se encaixaram de forma tão perfeita para o gênero do western spaghetti; se pararmos para pensar, eles até soam como sinônimos em determinadas ocasiões. Sendo assim, podemos dizer que Django é o grande mestre da vingança no cinema só pelo fato de ser um dos maiores influenciadores do já citado Quentin Tarantino. De acordo com o Spaghetti Western Database – site especializado em faroeste europeu – o primeiro filme do anti-herói é o terceiro spaghetti predileto do cineasta.

Partindo disto, o único câmbio ocorrido neste filme de Django foi a mudança do elenco, substituindo o personagem-título antes interpretado por Franco Nero pelo único ator de origem brasileira a ter um espaço importante reservado no western spaghetti: seu nome é Antonio Luiz De Teffè, aqui grafado como Anthony Steffen. O mais impressionante é que, além de atuar fazendo o papel principal, ele também assina o roteiro e toma as rédeas da produção!

Sendo assim, a aventura se passa 16 anos após o fim do famoso cenário da Guerra Civil Americana, com Django buscando uma interessante vingança: ele não quer vingar a morte de algum familiar ou amigo, mas sim a sua própria. E vou logo avisando que não adianta manipulá-lo com o dinheiro que for! Isso porque, durante o conflito nos Estados Unidos, seus três oficiais (Paolo Gozlino, Jean Louis e Teodoro Corrà) o abandonaram no acampamento contra os soldados adversários, safando-se por pouco de sua extinção...

Com atuações regulares por parte de todo o elenco, o destaque vai mesmo é para a direção de mais um Sergio na história do western spaghetti, só que desta vez não falo de Leone, Corbucci ou Sollima, mas sim de Garrone; sua direção se alterna entre planos raramente vistos antes em um filme do gênero, como demasiados plongées e contra-plongées, além também de uma veemência de planos em primeira pessoa para causar um amplo nível de tensão nos espectadores; fora isso, o intenso uso de zoom chega a ser cansativo e o mais proveitoso de Garrone é tirado de seus close-ups, com os atores mirando diretamente à câmera, parecendo nos dizer algo . Por último, a trilha sonora de Vasco & Mancuso consegue se adequar em cada momento do filme, como por exemplo, nos flashbacks da guerra onde os tambores rufam em referência às músicas de conflitos ocorridos em campos de batalha.

A aposta em um figurino e cenários pobres talvez tenha sido o único erro crucial do trabalho inteiro, já que estes importantes detalhes para retratar uma época passada não ganham nenhum toque especial nem nada marcante, sendo que o personagem Django simplesmente utiliza uma mísera capa preta com alguns rasgos. Para compensar, o roteiro consegue preenche muito dos espaços vagos, sobretudo na caracterização marcante dos personagens, na qual trataram o mortal Django em um ser divino e sobrenatural, desaparecendo de frente das telonas em um passe de mágica. Exemplo disto é o próprio final da película, onde Alida (Rada Rassimov) desvia o olhar de Django e, ao olhar novamente, ele some entre os corpos estirados no chão. Além dele, outra pessoa que se define de outra forma é Jack Murdock (Luciano Rossi), que é transformado em uma espécie de psicopata e, com o rosto excessivamente pálido, foge definitivamente do clichê nos quais outros filmes com a mesma temática da vingança se apegariam.

Incluído entre os 30 títulos já executados sobre o personagem, Django – O Bastardo é um dos melhores e mais objetivos, principalmente por contar com uma direção autoritária e por uma soberba caracterização dos personagens. E, hoje em dia, a influência causada pelo anti-herói mais copiado na história do western é mais que imediata, inspirando Quentin Tarantino e muitos outros realizadores, como Alex Cox e até o japonês Takashi Miike. O último, inclusive, reinventou de sua própria forma a história do personagem no ano de 2007, filmando uma espécie de homenagem denominada Sukiyaki Western Django; em 2012, outro filme inspirado na obra de Django é Django Unchained, de Tarantino, fã incondicional do ator Franco Nero.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

2 comentários:

  1. E Anthony Steffen acabaria mesmo por ser o actor a personificar essa personagem por mais vezes (Django il bastardo, Pochi dollari per Django, W Django!...). Ainda que muitos desses filmes nem tenham sido pensados como sequelas da saga "Django", acabando apenas por levar o nome adicionado ao titulo.

    Steffen nunca foi demasiado hábil na arte da representação, mas o papel que desempenhou neste filme mereceria por si só ser recordado para a eternidade.

    Em Portugal o filme foi lançado como O SINAL DE DJANGO, tive a sorte de encontrar até um poster original desse lançamento nacional. Como é também um dos filmes favoritos da minha cara-metade, está pendurado lá em casa!

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

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  2. Há claras referências de que este filme não possui uma relação completa com o estopim da saga "Django", em 1966. Apesar disto, aprovei mais "O Bastardo" do que o original com Franco Nero. Incrível, não?!

    Este também foi o primeiro trabalho que vi de Anthony Steffen e me agradou bastante. Buscarei mais outros e vejo se mudo de ideia... Tomara que não!

    Ah, e tremenda sorte morar aí do ladinho da Espanha; com certeza as coisas relacionadas ao western chegam muito mais frequentemente. Aqui é raro chegar um único pôster... Pelo menos onde moro!

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