5 de novembro de 2011

Crítica: Três Enterros

THE THREE BURIALS OF MELQUIADES ESTRADA

(TRÊS ENTERROS)

Direção: Tommy Lee Jones

Roteiro: Guillermo Arriaga

Produção: Luc Besson, Michael Fitzgerald e Pierre-Ange Le Pogam

Ano: 2005

Elenco: Tommy Lee Jones, Barry Pepper, Dwight Yoakam…

Duração: 121 minutos

Estreia de Tommy Lee Jones atrás das câmeras manifesta-se em um faroeste crítico e genérico, com aspirações às obras de Sam Peckinpah.

Análise: Para um cineasta precariamente relacionado ao gênero do western em torno de sua arrojada carreira, iniciar como diretor através de um filme do gênero aparenta ser uma missão seriamente desfavorável. Mesmo assim, o carrancudo texano Tommy Lee Jones assume todo o governo de seu trabalho de estreia com tamanha segurança – seja a partir de seu notável porte de atuação ou então de sua efetiva e segura direção.

Sustentado por pilares de filmes difundidos como blockbusters e carregando uma estatueta por O Fugitivo, Lee Jones nunca havia dirigido nada para o cinema e nem sequer atuado em um faroeste – exceto por algumas poucas participações no seriado Os Pistoleiros do Oeste. Portanto, deduzimos que sua bagagem na “categoria cinematográfica peculiarmente norte-americana” era completamente vazia, tendo de redobrar o esforço para conseguir realizar um filme de prestígio.

A oportunidade era única, e Jones a abraçou: além de garantir sua hegemonia na sétima-arte, ele também foi o vencedor do Festival de Cannes na categoria de Melhor Ator.

A alcunha de “faroeste genérico” recebida por Três Enterros apenas comprova o fato de não sermos levados para a mesma época dos comuns filmes do gênero, nos quais soldados vestidos de azul batalhavam contra os cinzentos ou revolucionários mexicanos tentavam combater o governo de seu país. Com tantos tortuosos conflitos rodeando nosso cotidiano atual, filmar um projeto histórico como estes seria bobeira! É por tal motivo que temos nossa visão ocupada de críticas aos imigrantes mexicanos e ilegais nos Estados Unidos, justamente por ser um dos problemas mais vistos em telejornais e também uma das grandes inquietações na fronteira entre os territórios do roteirista Arriaga e do diretor Jones.

Narrada em três diferentes ações ao melhor estilo “não linear” de Quentin Tarantino, a trama gira em torno da forte amizade estabelecida entre o rancheiro Peter Perkins (Jones) e o vaqueiro mexicano Melquiades Estrada (Julio Cedillo), o qual trabalha ilegalmente no rancho do melhor amigo.

Apesar de estarmos perdidos no princípio de tudo, a hábil montagem de Roberto Silvi nos revela o caminho para seguir estrada e entender o que antes parecia incompreensível. Sendo assim, somos diretamente apresentados ao assassino de Melquiades: o policial de fronteira Mike Norton (Barry Pepper). Sua personalidade presenteia um formidável antagonista, aderindo hábitos de violência, desorientação e mais claramente, de anseio sexual. Mesmo tendo assassinado sem tal intenção, ele terá de pagar caro por isto, percorrendo milhas e milhas de pura aventura até o México, juntamente com o vingativo Perkins e com o cadáver de Melquiades.

A situação imprevisível de carregar o corpo de um defunto ao redor de um território bastante extenso logo nos remete a história vivida por Warren Oates em Tragam-me a Cabeça de Alfredo García, do “poeta da violência” Sam Peckinpah. A diferença, porém, é que um personagem apenas deseja o dinheiro, e o outro quer dar um leito de morte fiel ao companheiro – como foi prometido no decorrer de Três Enterros.

Dando continuidade às influências, ainda é possível perceber que o filme de Tommy Lee Jones também serviu como referência para algumas obras futuras, principalmente o “oscarizado” Onde os Fracos não têm vez, dos irmãos Coen. Além de a semelhança visual entre os dois trabalhos ser extremamente grande, o enredo de perseguição é análogo e a presença de Lee Jones é garantida em ambas as obras. Pois é, parece que ele realmente aderiu à ideia dos faroestes...

Mesmo com um elenco aguçado e com sede de atuação, o maior destaque de todo o trabalho – atrás de Jones, obviamente – é o mexicano Guillermo Arriaga: dono de um argumento completamente lúcido, ele até venceu o Festival de Cannes na categoria de Melhor Roteiro.

Abaixo da direção e do roteiro, temos a original e exemplar montagem, por parte do já citado Roberto Silvi. A fotografia magistral e de primeira linha por Chris Menges também vale o ingresso, apresentando imagens desérticas dos mais variados lugares do maravilhoso Texas. No grandioso e estrelar elenco se inclui desde a atual vencedora do Oscar na classe de Melhor Atriz Coadjuvante, Melissa Leo, até o mais desconhecido e não menos importante Julio Cedillo. Por último, a consistente porém fraca trilha sonora (vídeo abaixo) é do respeitável compositor ítalo-americano Marco Beltrami, conhecido por seu trabalho no faroeste de Os Indomáveis.

Apesar de soar como uma projeção um tanto quanto arrastada, a conjuntura de Três Enterros é obrigada a possuir tal conduta, visto que sua constituição vai desde um vulgar road movie até alguns componentes de crítica e humor negro.

De qualquer forma, demorado ou não, é importante salientar que o filme sempre se mantém no mesmo ritmo e, posterior à supremacia de Os Imperdoáveis nos últimos tempos de velho-oeste, a surpresa vinda por parte do agora diretor Tommy Lee Jones nos concede um dos melhores westerns modernos, podendo até mesmo ser considerado um prato abundante para os amantes do gênero, com um recheio de palpáveis referências e um gosto final mais do que plausível.

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

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