1 de fevereiro de 2012

John Ford, John Ford, and... John Ford!

Em determinada ocasião, o inovador cineasta estadunidense Orson Welles foi surpreendido ao lhe questionarem seus três diretores favoritos, porém a resposta foi desferida com a melhor pontaria possível: “John Ford, John Ford, e... John Ford”. Realmente, além de tal circunstância, Welles jamais escondeu seu apreço pelo diretor de ascendência irlandesa, assegurando ainda o fato de ter assistido No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939) pelo menos 40 vezes antes de realizar sua obra-prima, Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941).

A importância de Ford, inclusive, ultrapassa com certa vantagem os limites de Orson Welles, tornando-se também uma influência para todo e qualquer artista que migre diretamente às bandas da sétima-arte.

Meu nome é John Ford, eu faço westerns!

Descendente de irlandeses, John Ford nasceu no dia 01 de fevereiro de 1894 em Maine/USA sob o nome de John Martin Feeney, demorando a ser chamado como é hoje devido às suas diversas designações: apesar de conter o nome de batismo citado logo acima, durante toda sua adolescência substituiu “Martin” por “Augustine”, para então adotar Sean Aloysius O’Fearna em seu passaporte.

Antes um vendedor de peixes e lanterninha em alguns teatros de Portland, John rumou pelo mesmo caminho de seu irmão – o ator e diretor Francis Ford – ao ingressar em Hollywood no ano de 1914 e se autonomear Jack Ford até 1923, adicionando mais uma alcunha para sua coleção. A partir daí, seu nome foi alterado pela última vez: John Ford se tornou definitivo!

Creditado pela primeira vez ainda atuando sob o título de Jack Ford, suas participações em trabalhos do irmão eram constantes, fazendo com que ganhasse experiência e pudesse estrear na cadeira de diretor em 1917, com o curta-metragem de faroeste The Tornado (O Furacão, 30 minutos).

Durante um período de dois anos (1917-1919), Ford acabou dirigindo 31 westerns somente para a Universal Studios. Alguns destes filmes, aliás, enunciava seu primeiro parceiro das telonas: Harry Carey, com quem filmou 29 projetos em uma estação de quatro anos.

Apesar disto, John Ford é de fato conhecido mundialmente por sua duradoura e afetiva associação com o ator John Wayne. A ligação entre ambos teve seu desabrocho em 1939, com o clássico No Tempo das Diligências, um filme responsável por criar dois mitos a partir de uma só cajadada: o próprio Wayne e o típico cenário de Monument Valley.

As maiores criações de Ford: Wayne na pele de um cowboy solitário e o Monument Valley servindo como um perfeito pano de fundo.

Assim sendo, a mira da conexão entre Wayne e Ford não poderia ser mais certeira: foram 22 filmes realizados lado-a-lado, quase todos expondo os terrenos do Monument Valley e um favorável sucesso de crítica.

O cume se deu, de forma indiscutível, com a obra-prima Rastros de Ódio (The Searchers, 1956). Entretanto, sete anos após a arrasadora película, o adeus de uma das duplas mais fascinantes do cinema aconteceu: o último filme entre Marion Robert Morrison e John Martin Feeney foi O Aventureiro do Pacífico (Donovan’s Reef, 1963).

A separação de dois memoráveis nomes através de uma comédia-romântica.

Já partindo para a década de 70 – mais especificamente em 1971, dois anos antes da morte do lendário diretor – foi lançado um documentário biográfico com direção e roteiro de Peter Bogdanovich, apresentando figuras notáveis na filmografia de Ford, bem como seu queridinho John Wayne e outros rostos não menos importantes: James Stewart, Henry Fonda, Maureen O’Hara e Katharine Hepburn. E como narrador, é claro, não poderia faltar Orson Welles...

Directed by John Ford (Peter Bogdanovich, 1971)

Em 49 anos de carreira (1917-1966), John Ford dirigiu cerca de 130 filmes e prestou seus serviços como ator em apenas 19 projetos.

When the legend becomes fact, print the legend.

TEXTO DE BRUNO BARRENHA.

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