5 de maio de 2012

Crítica: Renegado Heroico

SPRINGFIELD RIFLE

(RENEGADO HEROICO)

Direção: Andre De Toth

Roteiro: Charles Marquis Warren e Frank Davis

Produção: Louis F. Edelman

Ano: 1952

Elenco: Gary Cooper, Paul Kelly, Lon Chaney…

Duração: 93 minutos

Despretensioso como deve ser, um dos conflitos mais encenados pelo western recebe uma visão além de tudo já famigerado no gênero.

Análise: Evidentemente, posterior ao conflito entre os peles-vermelhas e o homem branco, o assunto mais tratado em faroestes norte-americanos é o choque entre os próprios homens civilizados, como a Guerra Civil que abalou o país na segunda metade do século XIX, tornando-se um protótipo para o cinema. Até mesmo em produções estrangeiras, tais temas aparecem em grande escala: um dos exemplos mais pertinentes é o dos westerns spaghettis, copiando à exaustão não só o gênero estadunidense por excelência, mas também os fatos que se ocasionaram no país-berço do velho-oeste.

Ainda impulsionando a faixa musical típica dos westerns feitos nos Estados Unidos da América, somos transportados – em uma cena pós-créditos iniciais – diretamente para o interior do Departamento de Guerra do país, onde dois oficiais discutem um telegrama sobre o desaparecimento de cavalos e espionagem. Curiosamente, esta é a intriga que resistirá sobre o enredo durante todo o filme.

Apesar de não abrir por completo suas cortinas, o espetáculo transita mais algumas locações antes de se impor e criar o constante clímax: Colorado é o paradeiro essencial para a batalha entre os saqueadores cinzentos (os Confederados, do Sul) e aqueles que deveriam impedir tal ação adversária e se utilizariam da tática de espionagem (representados pelos yankees, os azuis ou a União, do Norte). Desde o início, pode-se perceber que os sulistas são tratados com mais aversão, oferecendo o ponto-de-vista do diretor e dos roteiristas para tratar do assunto.

“Estas espingardas representam a força de 30 homens. Não há carregamentos pelo cano. A culatra abre-se assim. E ejeta o invólucro. Carregamos e atiramos em poucos segundos.”

E, de pouco a pouco, até mesmo com certa dificuldade, vamos tendo conhecimento geral da obra: a primeira aparição do Major Lex Kearney (Gary Cooper) nos transmite sua posição perante todos ao seu redor, sendo um homem de pulso-firme e de palavra, daqueles que se impõem. Ele é o ex-marido de Erin (Phyllis Thaxter), com a qual tem um filho recentemente desaparecido ao fugir da escola. Paralelamente a isto, Lex é admitido pelo Tenente Hudson (Paul Kelly) como um espião entre os sulistas, tomando a responsabilidade para si em transmitir informações dos inimigos.

O trio liderado pelo Major ‘Lex’ Kearney (Cooper): Capitão Edward Tennick (Philip Carey) e Sargento Snow (Guinn Williams).

Como a maioria dos faroestes estadunidenses da década de 40, todo o argumento de Renegado Heroico é baseado em uma estória, esta sendo de autoria de um roteirista de Hollywood: Sloan Nibley, o qual não participou do processo de escrita do roteiro do filme, servindo apenas como inspiração para as mentes e mãos dos autores Frank Davis (o mesmo companheiro de De Toth três anos depois, em A Um Passo da Morte) e Charles Warren. Assim, a construção de todo o contexto é bastante complexa, chegando até mesmo a ser confusa, pois passa a criar muitos nós em nossa cabeça de tantos personagens que estão espionando uns aos outros e, por vezes, nem sabemos. Além disto, as desordens geradas são a partir de motivos vagos, quase servindo como uma “violência gratuita”, isto é, sem objetivo para ter acontecido. Como consequência, o resultado final de determinadas cenas justificam-se previsíveis e dispensáveis, salvando-se somente as valentes coreografias e os pontos altos de tensão, porém não impedindo de afetar diretamente o filme.

A direção, de Andre De Toth, rende pouquíssimos detalhes, utilizando-se de tal elemento somente quando extremamente necessário; em compensação, as visualizações abertas são praticamente metade de toda a projeção, buscando inspecionar todo o local para ambientar seu espectador. Entretanto, em cenas noturnas, climatizadas em ambientes de pouca luminosidade e que renderiam uma boa sequência de imagens, sente-se falta de uma iluminação mais explícita e, sendo assim, o trabalho de De Toth perde todo seu brilho metódico e reflexivo, possibilitando apenas visões confusas de pessoas em movimento.

O ponto mais alto do filme, sempre ritmado àquilo que acontece nas telas, é a trilha sonora, de autoria do compositor Max Steiner. Seja ao seguir o reflexo dos espelhos empregados como código em missões dos ladrões de gado ou em simples cenas de ação, a musicalidade nunca deixa de estar presente: os ritmos frenéticos impostos pelo ranger dos instrumentos de Steiner aumentam a crise em certos momentos e fazem um simples gesto se tornar algo mais.

Ao contrário do sucesso alcançado pela sonoridade, a edição de Robert L. Swanson, mesmo com sua eficácia em algumas circunstâncias, também peca em várias oportunidades, cedendo aos inúmeros planos abertos que não apresentam qualquer finalidade narrativa, senão a beleza imagética apreendida pelas lentes do diretor de fotografia, Edwin DuPar, o qual resolve apostar em paisagens naturais: ora frias ao contrastar com as dimensões gélidas das locações de Lone Pine, ora secas nas planícies de Warner Ranch.

Uma quantia considerável de erros, porém muito mais de acertos: esta é uma das definições para Renegado Heroico, outro western do caolho diretor húngaro, Andre De Toth. A tarefa do cineasta, aliás, não era nada fácil: transferir uma história tão multíplice e excessiva como esta para pouco mais de 90 minutos. Como resultado, os forasteiros cinéfilos podem até se deliciar com as reviravoltas possíveis a qualquer segundo e atuações regulares de um elenco liderado pelo sempre carregado Gary Cooper.

Portanto, o filme se distingue por não conter qualquer presença do humor pastelão (o que dá um ar mais agradável e maduro) e dos peculiares clichês que rondavam os projetos cinematográficos naquele período clássico do gênero, como, por exemplo, a presença quase nula de uma mulher. Na época, apesar de não ser o centro das atenções, as personagens femininas tinham papeis de destaque dentro dos filmes, normalmente representando as esposas dos bravos guerreiros e lutadores, ou então, dos pistoleiros. Vale afirmar, ainda, que o filme foi realizado dois anos antes de Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954), o qual foi responsável por abrir novas fronteiras à figura feminina no gênero do western ao transformar uma mulher não só em pistoleira, mas também em protagonista, dando um chute no saco dos machistas de plantão.

E, mesmo que uma obra de ficção, muito adiante das desinteligências entre os personagens, em Renegado Heroico também é contado – apesar de que em segundo plano – sobre a incorporação de uma nova arma ao Exército Norte-Americano. Ou seja, não é por um mero acaso que o título original do filme seja “Springfield Rifle”, referenciando-se ao tal equipamento. A propósito, antes dos créditos iniciais, De Toth aplica um interessante conceito aos espectadores através de um zoom dramático na arma, a qual está pendurada, em sinal de que foi colocada em um pedestal e idolatrada ou, simplesmente, abandonada. Ao decorrer da projeção, percebe-se que ela ocupou importantemente uma boa parte da vida do protagonista Lex Kearney e, o que aconteceu com ele, é uma das hipóteses acima: o esquecimento ou a idolatria?

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

Um comentário:

  1. Assisti sim a mais esta fita do Gary Cooper.
    Embora a tenha visto quase sessenta anos atrás e ainda lembro que gostei dela, não consigo me recordar de nada que possa colocar aqui como comentário.

    Vou tentar reassisti-lo e, posteriormente, e com mais detalhes e conhecimento, porei um novo e mais atual comentário.
    jurandir_lima@bol.com.br

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