BLINDMAN
(PRESO NA ESCURIDÃO)
Direção: Ferdinando Baldi
Roteiro: Pier Giovanni Anchisi, Tony Anthony e Vincenzo Cerami
Produção: Tony Anthony, Allen Klein e Saul Swimmer
Ano: 1971
Elenco: Tony Anthony, Lloyd Battista, Ringo Starr...
Duração: 105 minutos
Inusitada obra do western spaghetti conta, além da construção mais realista possível de um pistoleiro cego, com a presença do eterno beatle Ringo Starr.
Análise: Exatamente um ano após o fim da revolucionária e aclamada banda de rock britânica The Beatles, cada um de seus integrantes seguiu um rumo próprio: enquanto John Lennon, Paul McCartney e George Harrison acataram para suas respectivas carreiras-solo na música, o baterista do grupo – Richard Starkey, peculiarmente nomeado de Ringo Starr – migrou para mais de um polo artístico: o cinema. Além de prestar suas atuações nos três filmes realizados com os antigos parceiros de fanfarra (A Hard Day’s Night, Help! e Reflections On Love), Ringo interpretou mais quatro personagens – alternando entre a televisão e as telonas – até abordar o incomum faroeste italiano de nome Blindman (literalmente, “homem cego”), pelo ano de 1971.
Portanto, aprovando a ideia proposta pela sétima-arte, de lá para cá, já foram quase 30 contribuições de Ringo Starr como ator, sem esquecer também seus trabalhos como compositor, diretor, escritor, produtor e até mesmo, editor!
Não ter olhos significa ser um homem pela metade. Não ter olhos nem dinheiro... É uma merda!
Os créditos iniciais estão rolando, sobrepostos a uma paisagem desértica e um homem cavalgando com seu cavalo: até determinado ponto, Blindman não proporciona nada demais. Contudo, ainda não sabemos que tal personalidade é justamente o homem cego referido pelo título do filme, e só damos conta disto quando vemos que ele não possui total controle sob seu cavalo de manchas cinza, servindo aqui como uma espécie de “melhor amigo e eterno companheiro” ao lado do dono. Assim, logo quando se aporta na primeira cidade, ele conversa brevemente com Gambá (Renato Romano) sobre “as 50 mulheres que precisam ser levadas para o Texas”, descobrindo que o rumo tomado por elas foi o México – mais especificamente, as mãos de Domingo (Lloyd Battista).
Caminhando com uma placa indicando que não enxerga e guiado por uma baioneta fincada no cano de sua Winchester, o homem cego (Tony Anthony) utiliza-se da inteligência e da ironia para criar seu caráter. Portanto, a qualquer custo quer encontrar o tal de Domingo, e rapidamente se depara com seu irmão, Candy (Ringo Starr). Ao contrário dos outros membros da família, ele é apaixonado apenas por uma mocinha: seu nome é Pilar (Agneta Eckemyr) mas, apesar de tudo, ela não gosta de Candy. E, por ironia do destino ou não, diante da primeira aparição do personagem de Ringo, ele anuncia sua chegada tocando violão, um feito deveras sugestivo...
Enquanto isto, ao decorrer da trama, Pilar cria laços de amizade com Blindman e, juntamente com seu pai (Franz Treuberg), cria uma sociedade com o principal objetivo de ajudar o cego a avistar seu destino, pastoreando-o em situações de tamanha dificuldade; em circunstâncias parecidas, isto também ocorre no primeiro filme do faroeste europeu, Por um punhado de Dólares (Sergio Leone, 1964). E, muito mais adiante dele, outra obra de Leone que fora homenageada é Era uma vez no Oeste, de 1968: a cena da troca de prisioneiros se dá em uma estação de trem, a qual envolve sons naturais e um moinho idêntico ao da obra-prima do primeiro Sergio.
A direção de Blindman é assinada por mais um dos calejados cineastas italianos, também de renome no eurowestern: falo do experiente Ferdinando Baldi, conhecido sobretudo por prestar seu trabalho em Texas, addio (1967), Preparati la Bara! (1968) e Il Pistolero dell’Ave Maria (1969). Aqui, ele é prático e incessante com seus planos eficientes e sempre ao melhor cunho de Sam Peckinpah, experimentando a nudez e a violência aperfeiçoada, fora o acréscimo da tensão em determinados momentos por mérito da musicalidade.
A propósito, a banda sonora é de autoria do romano Stelvio Cipriani, realizando um trabalho vital para o filme. Suas composições, inclusive, até se assemelham às do maestro Ennio Morricone, o pioneiro na arte musical do faroeste italiano. Assim, uma de suas principais virtudes é a alternância de melodias através do ambiente vivido pelo protagonista cego e sem nome; por exemplo, em sua primeira viagem ao México, os temas musicais tornam-se agitados e bastante dinâmicos, com ritmos que recordam as principais características do país. E, além do próprio Blindman, Cipriani também foi de grande realce para a continuação da Trilogia do Estranho entre o ator Tony Anthony e o diretor Luigi Vanzi, responsabilizando-se pela assinatura dos últimos dois filmes: Um Homem, um Cavalo e uma Pistola, de 1967 e O Estranho no Japão, de 1968.
Muitas vezes criticado por ser um ator de poucas expressões em seus trabalhos, esta vez Tony Anthony não repete as doses passadas, construindo um personagem de bom proveito e que se qualifica por despertar a atenção e acolher – da forma mais calorosa possível – os espectadores para sua aventura às cegas. Ah, sem expor ainda o fato de o artista americano estar diretamente ligado ao processo de produção, tanto na criação da estória e na escrita do roteiro (ao lado de Piero Anchisi e Vincenzo Cerami) quanto na própria produção, junto com Allen Klein e Saul Swimmer – ambos camaradas de longa data da banda The Beatles, assim sendo de grande autoridade para a participação do baterista Ringo Starr no projeto.
Aliás, o roteiro não deixade lograr êxito dentro de todo o contexto do filme, direcionando claramente para os espectadores uma visão mais avantajada sobre a construção do personagem de Anthony e de todos os outros, caracterizando-os da forma mais verídica e autêntica possível, sem exagerar muito nos devaneios fantásticos de alguém cego no faroeste – o que normalmente se contraria em outras projeções do gênero. Enfim, diálogos ressaltantes e situações fora do comum acrescentam um toque a mais para deixar não só o filme, mas também o roteiro, com algo mais valioso e especial.
Uma canja para os curiosos: confira Ringo Starr encarnando Candy, seu personagem em Blindman.
Entulhado de muitas explosões e de minúcias que podem passar por despercebidas, Blindman acrescenta sua qualidade com a presença do eterno beatle Ringo Starr, afora seus momentos engraçados e de apelo às gags. Já em relação à direção do sanguinolento Ferdinando Baldi, apenas há a intensificação da violência no decadente gênero do western spaghetti, referenciando em maior tamanho o subversivo Meu Ódio será sua Herança (Sam Peckinpah, 1969), em que o sangue jorrando por entre as fossas causadas pelas balas se torna cada vez mais constante. Portanto, a selvageria em conjunto com a nudez das mulheres europeias só fez com que aumentasse o impacto e a censura do filme!
E, com tanta violência rolando a solta, será que a cegueira de Blindman justifica o ato de ele atirar pelas costas de seus inimigos?
MINHA NOTA PARA ESTE FILME:
ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.
Confesso que ainda não tinha nem sequer ouvido falar deste filme, a presença de Ringo aliada á sua ótima análise me deixou curioso... vou acrescentá-lo á minha lendária lista de filmes a assistir... Parabéns pelo Blog e pela segmentação, o western é um dos gêneros com o qual tenho menos intimidade, teu Blog vai ser com certeza um bom canal para troca de dicas e informações... Forte abraço!
ResponderExcluir.
http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/12/um-lugar-qualquer.html
Olá, J. Bruno.
ResponderExcluirBlindman é realmente um filme bem oculto dentro dos westerns, ainda mais por ser um spaghetti realizado na época em que o gênero estava em decadência.
Obrigado por seu elogio ao blog e, com certeza, iremos trocar dicas e informações sobre a sétima-arte.
Também já visitei seu blog. Muito bom!
Abraço.
Mais uma adaptação do cinema japonês. Desta vez trata-se de Zatoichi, o famoso samurai cego que deu mote para uma série de filmes nipónicos. A espada é trocada por espingarda com baioneta e incrivelmente tudo resulta na perfeição. Melhor spaghetti de Tony Anthony na minha opinião.
ResponderExcluirAbraço.
--
Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://auto-cadaver.posterous.com
Mais uma adaptação japonesa dentro do western spaghetti. E, apesar disto, o resultado é sempre favorável!
ResponderExcluirE claro: Anthony está antológico aqui...
Abraços.
Esse eu não vi, mas se é melhor do que Django vou procura-lo para ver.
ResponderExcluirSeu blog é ótimo cara. Parabéns.Vou conferi-lo sempre.
Particularmente, não sou muito fã de Django -- pode-se perceber em minha crítica do filme, aliás. Sendo assim, este Blindman me agradou muito mais!
ResponderExcluirGracías pelo elogio, compañero.
Será sempre bem-vindo!
Este é mais um western-spaghetti que aproveitou para filmar várias cenas na célebre fortaleza EL CONDOR, no deserto de Almería.
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