10 de novembro de 2011

Especial: Parabéns, Gênnio!

Bastam apenas sessenta segundos para que as músicas de um dos maiores compositores da sétima-arte invadam nossa mente.

Em uma de suas primeiras, mais conhecidas e melhores elaboradas trilhas sonoras para o cinema, o maestro e compositor italiano Ennio Morricone logo nos questionava com o nome de “Sixty seconds to what?” (“sessenta segundos para quê?”), a faixa-título para o segundo spaghetti de Sergio Leone, Por uns Dólares a Mais, do ano de 1965. Mesmo sendo uma pergunta bastante abrangente, minha resposta estaria na ponta da língua, sendo rápida e direta: seriam sessenta segundos para que as músicas de um gênnio do cinema penetrassem através de nossos ouvidos e crivassem em nossas cabeças por todo o sempre, assim como os incontáveis filmes dos quais esteve envolvido no processo de musicalidade. E para você, que ainda duvida de minha contestação, abaixo é possível escutar a orquestra de Morricone em perfeita harmonia com a melodia responsável por dar tons muito maiores ao filme de seu comparsa, Sergio Leone.

E então... Agora sabem o que seriam de sessenta segundos?

Nascido na comuna romana de Arpino (província de Frosinone) em tempos datados do dia 10 de novembro de 1928, Ennio Morricone desabrochou na arte que o consagraria futuramente através de pagamentos no Conservatório de Santa Cecília, onde se privilegiou tocando trompete em bandas de jazz. Ao lado de estrelas radiofônicas como Mario Lanza e Chet Baker, então Morricone dedicou-se ao rádio, trabalhando na já extinta Rádio Nacional Italiana.

Posteriormente, o talento de Morricone para o cinema enfim foi posto em prática: ele desempenhou um pequeno papel na composição da trilha sonora para o filme italiano Morte di un amico (Franco Rossi, 1959). Com a estreia nas telonas do futuro astro de spaghettis Gianni Garko, o esforço de Ennio foi em vão e o filme acabou por não levar seu nome nos créditos finais.

Morte di un amico, com Gianni Garko e Spiros Focás: o estopim de um fenômeno designado Ennio Morricone.

Apesar de tamanha injustiça ao não ter seu nome creditado justo no início de sua carreira, Morricone continuou correndo atrás de seus objetivos, fazendo compensar sua ousadia em um período de dois anos após Morte di un amico: desta vez, o trabalho do maestro foi recompensado na comédia de guerra O Fascista (Luciano Salce, 1961). A partir de então, projetos não paravam de surgir e o nome de Ennio Morricone não cansava de aparecer neles, sobretudo nos que envolviam os diretores romanos Camillo Mastrocinque e Luciano Salce – as primeiras parcerias do italiano Morricone.

Adquirindo o dom em criar músicas intensas e sentimentais com o passar do tempo, o então desconhecido gênio musical nem poderia imaginar que suas porvindouras composições conseguiriam mudar o destino de muitas coisas: desde o pensamento de um espectador ao imaginar precipitadamente um personagem até o deslocamento de um polo cinematográfico – como foi o famoso caso do western.

Depois de algumas parcerias com os já citados Salce e Mastrocinque, foi a vez de se unir ao antigo amigo da escola primária, Sergio Leone, numa das duplas mais reconhecidas mundialmente em termos de “sétima-arte”. Juntos, formaram uma das maiores e mais duradouras sociedades entre compositores e diretores, estando ao lado de grandiosos nomes como Hitchcock/Herrmann, Francis Coppola/Nino Rota e Spielberg/Williams.

A parceria em questão: Leone à esquerda e Morricone ao centro.

Então encorajado por Sergio para participar do processo de criação das trilhas sonoras para seus filmes e ainda para mudar a rota do “gênero estadunidense por excelência”, o hoje intitulado Compositor do Oeste e seus companheiros de produção sofreram com os inúmeros preconceitos vindos dos Estados Unidos. Com o propósito de reverter tal quadro, foi necessária a mudança de seus nomes italianos para algo mais americanizado: enquanto Morricone passou a se chamar Dan Savio ou Leo Nichols, Leone foi batizado de Bob Robertson.

Como fruto do primeiríssimo contato entre Robertson e Savio, nasceu no ano de 1964 o primeiro “bang-bang à italiana”: Por um Punhado de Dólares, com os lá desconhecidos Clint Eastwood e Gian Maria Volonté nos papéis principais. Apesar das inúmeras críticas que classificavam o novo gênero – ou o subgênero do faroeste – como um “lixo sangrento”, a fama admitida pela dupla rodou quase o mundo inteiro.

Ao mesmo tempo em que Morricone (ou Savio) tinha suas músicas nas mais diversas paradas de sucesso, Leone (ou Robertson) projetava filmes para um futuro próximo. Pois era assim que eclodiam cada vez mais e mais westerns spaghettis, quase todos com a marca registrada do novo compositor de renome e apreço internacional: os recursos para criar suas composições eram precários, visto que o dinheiro destinado a este propósito era pouco; então, a utilização de instrumentos pouco conhecidos tornava-se mais uma característica da obra de Morricone. Nesta era, sua música já havia se convertido em referência obrigatória para todo e qualquer interessado nos mais variados tipos de arte...

O ápice, entretanto, veio no terceiro trabalho com Sergio Leone: até é possível dizer que o tema concedido para Três Homens em Conflito, de 1966, é mais famoso que o próprio filme. Mesmo quem não conhece a obra máxima do faroeste italiano é sujeito a interpretar com assobios a composição do maestro, arranjador e compositor Ennio Morricone.

Todavia, muito mais além de Sergio Leone e os incógnitos Mastrocinque e Salce, a essência sonora de Morricone também passou pelas mãos e telas de muitos outros grandes cineastas, como Bernardo Bertolucci, Brian De Palma, Dario Argento, Elio Petri, Giuseppe Tornatore e Pier Paolo Pasolini. Com alguns destes, também foram formadas novas e perduráveis parcerias.

Traduzindo de maneira simples e objetiva todo este trecho a respeito de suas parcerias e ligações com um novo gênero da sétima-arte, é possível tirar apenas uma única conclusão: o que seria do western ou até mesmo do cinema em geral se as partituras de um certo forasteiro musical não existissem?

Vídeo-análise da obra completa do diretor italiano Sergio Leone, onde é possível observar um pouco sobre sua relação com Ennio Morricone.

Agora, uma das maiores injustiças em toda a história cinematográfica: Ennio Morricone nunca venceu um Oscar por suas composições destinadas aos filmes!

O fato de um artista – por mais cultuado que este seja – nunca ter vencido em sua vida o prêmio máximo do cinema é um assunto inexplicável. Com o maestro, que completa exatamente hoje 83 anos de vida, não é diferente: há mais de 50 primaveras na carreira do artista que existem luta para vê-lo tocar e levar para casa uma estatueta; mesmo com tamanho ímpeto, só aumentam as expectativas em realizar tal sonho, o qual pertence tanto aos fãs quanto ao próprio maestro.

Contudo, ao perceber o grande erro cometido contra Morricone, a Academia lhe entregou no ano de 2007 um Oscar Honorário por suas “magníficas e multifacetadas contribuições musicais para o cinema”.

Entregue através das mãos do astro dos spaghettis Clint Eastwood, a estatueta foi recebida com muita emoção por parte do “músico injustiçado”. Inclusive, a relação de ambos é bastante afetiva, ainda mais por Ennio ter composto a trilha de Na Linha de Fogo (Wolfgang Petersen, 1993), filme que conta com a presença de Eastwood. Nos momentos em que eles ainda pisavam no palco, houve até uma tradução por parte do cineasta norte-americano relacionado ao que o italiano falava. Realmente, um momento de bastante entusiasmo!

De acordo com tal atitude da Academia, apesar de ser bem pouco perto de tudo que já foi criado pelo músico, melhor assim do que como estava antes... Porém, ainda existe confiança para que haja uma reversão deste quadro irregular; afinal, Ennio Morricone ainda continua na ativa!

Documentário realizado após Ennio Morricone receber o Oscar Honorário pela 79ª edição da premiação mais popular da sétima-arte: o Oscar.

Ainda em atividade, seus braços e mãos vigorosos nem pensam em parar de compor. Seus últimos trabalhos no cinema foram basicamente para filmes de pouco destaque, incluindo curtas-metragens e projetos televisivos. De últimas marcantes lembranças por parte do maestro, o tarantinesco Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009) é uma delas... Acredito que ainda podemos esperar mais trilhas difíceis de esquecer!

Atualmente, Ennio Morricone contém cerca de 500 títulos reservados unicamente para filmes ou outros trabalhos artísticos, bem como séries televisivas. A maior parte de sua coletânea é reservada ao gênero do western, o qual foi um dos maiores responsáveis por consagrá-lo como um grande gênio das trilhas sonoras, possivelmente obtendo o título de um dos mais conhecidos artistas durante o século XX. No fim de tal período, inclusive, ele foi agraciado com um Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra, no Festival de Veneza.

Apesar de seus demais prêmios vencidos em muitos outros festivais, Morricone nunca levou para casa o mais significativo de todos: o Oscar. Mesmo assim, não é preciso desta compensação para sabermos o real valor de toda a obra do maestro italiano. A propósito, o que mais vale para o Gênnio já foi conquistado: a admiração da maioria das pessoas, sejam elas ligadas ao cinema ou meras espectadoras de suas músicas.

TOP 5 – TRILHAS SONORAS DE ENNIO MORRICONE DEFINIDAS EM UMA PALAVRA:

A MISSÃO (Roland Joffé, 1986)

Profundo – te eleva o espírito e prende a atenção.

ERA UMA VEZ NO OESTE (Sergio Leone, 1968)

Marcante – tratando-se deste trabalho, perda de fôlego é algo normal.

OS INTOCÁVEIS (Brian De Palma, 1987)

Intenso – exatamente o que se precisa para um filme da máfia.

CINEMA PARADISO (Giuseppe Tornatore, 1988)

Emocionante – conter o choro é praticamente impossível.

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (Sergio Leone, 1966)

Sublime – o maior clássico do compositor.

CORINGA:

- O PROFISSIONAL (Georges Lautner, 1981)

Notável – daquelas difíceis de esquecer.


"CONGRATULAZIONI, MAESTRO!"

HOMENAGEM FEITA POR BRUNO BARRENHA.

9 comentários:

  1. Sensacional esta postagem sobre Morricone.
    é um Gênio mesmo.
    Bem lembrado a trilha sonora de "A Missão"
    É uma das minha spreferidas fugindo um pouco
    das trilhas Westerns em que somos especialistas.
    Parece que todas as parcerias que Morricone teve em sua carreira
    foram magníficas, mas acho que o que vai imortalizar mesmo é a voz
    da cantora lírica Eda Del´Orso, os assovios de Alessandro Alessandroni e
    a a parceria que teve também com Bruno Nicolai, um de seus discípulos.
    Tudo em que põe sua batuta vira clássico.
    Parabéns amigo

    www.bangbangitaliana.blogspot.com

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  2. Nossa Bruno, melhorando a cada dia.
    Gostei muito pela homenagem feita.
    Está de parabéns continue assim!

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  3. Não há dúvida que Ennio Morricone devia ser chamado de Génnio Morricone! É uma homenagem mais do que justa porque se trata de um compositor brilhante!
    Além das imensas músicas para westerns, destaco A MISSÃO e "Le Vent, Le Cri" do filme LE PROFESSIONNEL.
    O facto de nunca ter ganho um Oscar, apesar de ter tido várias nomeações, só prova a palhaçada que representa os Oscares e o cinema de Hollywood!
    Felizmente, ainda houve pessoas conscientes e há poucos anos atribuíram a Morricone um Oscar Honorário dado pelo seu amigo Clint Eastwood.
    Mas a sua obra vale muito mais do que uma simples estatueta rasca...

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  4. Obrigado aos elogios da página!

    Tudo que aqui foi dito, assino embaixo.

    Principalmente no comentário do Emanuel, onde diz que "...a sua obra vale muito mais do que uma simples estatueta rasca...".

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  5. Um fenomeno de Deus que o Ennio Morricone recebeu, qunantas inspirações ele teve e tem, destaco algunhas músicas, como esta aí do filme por ums dólares a mais laresa dei conti, quando o ator Gian Maria Volonté fas um duelo com o ator Espanhou Lorenzo Robledo ambos falecidos, um ponto principal dessa música e clássica quando tocada au som do orgão, a outra il vizio de ulcidere tocada depois do assalto au banco de el passo e durante a fuga de indio e seu bando, e a arrebatadora the good, the bad & the ugly.

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    1. Sim, todas as músicas citadas por você são indispensáveis tanto para os filmes e quanto para concretizar o "gênnio" como um dos maiores compositores cinematográficos de todos os tempos.

      Abraços. Valeu pelas visitas!

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  6. Gênnio!
    Adorei a duplicação do N para se referir ao mestre Ennio!
    Sua obra musical é fantástica, emocionante. O que seria de Tarantino sem ele? rs

    O segundo vídeo ficou muito bem montado. Legal o panorama imagético que você faz do Leone.

    Belo post, ainda não tinha lido.

    Parabéns
    Abs.

    Abraço.

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    1. Obrigado pelo comentário e elogio, Rodrigo.

      O Morricone é realmente uma das maiores personalidades cinematográficas! Vivo brincando ao dizer que a mãe dele errou seu nome no cartório, devendo se chamar "Gênnio" e não "Ennio".

      Abraços e obrigado - mais uma vez.

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  7. Em uma entrevista para a revista Studio(1985),indagaram o grande Ennio Morricone,o motivo de recorrer tanto a voz humana,em seus diversos trabalhos para o Cinema,no que ele respondeu categoricamente; "A voz do homem é o instrumento mais bonito,o mais perfeito,porque vem das profundezas de nosso corpo,é um pouco do rumor de um corpo,é mesmo o som arrancado da vida.Com a voz não existe a mediação do instrumento,é o som diretamente enraizado nas nossas entranhas". Quando vi pela primeira vez..."Era Uma Vez No Oeste",c/Charles Bronson,em 1971, n Cine S.Antônio,na pequena cidade de Passa Tempo/MG,pude sentir na alma toda essa enlevação.Isto explica minha paixão pelo Universo do Cinema.Rodrigo,eu fui uma das pessoas que mais torceram para que Morricone,um dia fosse reconhecido pela indústria do Cinema.Imagine minha emoção ao ver o Clint Eastwood entregando pessoalmente o prêmio Oscar,a este grande mestre da música de Cinema.Meu filho Ennio Roberto,algum dia entenderá,o motivo do Ennio com dois n...

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