29 de setembro de 2011

Crítica: Um dólar entre os dentes

UN DOLLARO TRA I DENTI

(UM DÓLAR ENTRE OS DENTES)

Direção: Luigi Vanzi

Roteiro: Giuseppe Magione e Warren Garfield

Produção: Massimo Gualdi, Allan Klein, Carlo e Roberto Infascelli

Ano: 1967

Elenco: Tony Anthony, Frank Wolff, Gia Sandri...

Duração: 86 minutos

Uma orquestra musical dentro do velho-oeste europeu.

Análise: O assunto “trilha sonora” sempre foi relacionado ao cinema. De fato... Por dentro de todo o contexto entendido como sétima-arte, ela é a principal responsável por sustentá-lo em seus mais fortes pilares e até funcionar como diferentes formas de narrativa. Embora as soundtracks sejam importantíssimas e quase mesmo indispensáveis em todo e qualquer gênero cinematográfico, existe um entre os muitos estilos em que seu uso é requerido: estou falando justamente do western... Nada como o bom e velho faroeste!

Desde os primordiais compositores da idade dourada estadunidense – como Victor Young (de Shane, 1953) e Elmer Bernstein (de Magnificent Seven, 1960) – até os mais inovadores do spaghetti – como Ennio Morricone (da Trilogia dos Dólares) e Luis Bacalov (de Django, 1966) – a aplicação das trilhas sonoras no western vem sofrendo com cada vez mais novidades: estalos de chicote, guitarras pungentes, uivos de lobos, gritos de índios, vocais em níveis de ópera, etc... Pois, em Um Dólar entre os Dentes, de Luigi Vanzi, é criada uma orquestra musical dentro do velho-oeste e assim conseguimos perceber toda esta “revolução sonora”, já que o filme estava no auge criativo do faroeste europeu, mesmo sendo um tanto quanto desconhecido pelos espectadores.

Como se já não tivesse se tornado um tremendo clichê dos spaghettis, novamente temos a presença do Homem Sem-Nome no papel principal: a única diferença deste personagem com o que consolidou a figura do herói no gênero é somente o ator, sendo que no caso temos um enigmático Tony Anthony e não um glorioso Clint Eastwood. Caso fosse apenas por este detalhe, o filme estaria livre de ser comparado com outros, porém não é o que acontece: a história segue uma linha completamente idêntica à de Por um Punhado de Dólares (Sergio Leone, 1964). Prova disso são os vários elementos que se coincidem entre os dois filmes, como a chegada do Estranho em uma cidadezinha, seu trabalho para os mexicanos de Aguilar (Frank Wolff), seu espancamento e fuga para um lugar abandonado e, enfim, sua vingança triunfante contra os bandoleiros. É então que, olhando mais de perto, tudo se assemelha ao primeiro clássico da vida de Leone e do western spaghetti...

Depois dos acontecimentos relatados acima, acredito que toda trama já fica subentendida. Apesar disto, ainda é possível fazer algumas objeções: o Estranho vai até o povoado comandado por Aguilar apenas para satisfazer-se roubando uma fortuna em ouro (sempre ele!) do exército norte-americano, em um trato juntamente com o mexicano. Com o sucesso de tal missão, Aguilar ligeiramente tira o Estranho da jogada, espancando-o de forma brutal; então, ele foge para uma zona afastada onde a maravilhosa sequência final estará sendo aguardada por todos que assistem à película. Nela, o Estranho elimina cada pessoa do bando mexicano de uma maneira diferente, assemelhando-se como o próprio Por um punhado de Dólares, o mais posterior O Cavaleiro Solitário (Clint Eastwood, 1985) e o clássico Matar ou Morrer (Fred Zinnemann, 1952).

E, após tudo o que já foi dito até então, nem é preciso comentar que o ápice do trabalho está centrado na trilha sonora, de autoria do subestimado Benedetto Ghiglia, o mesmo compositor do regular Adeus Gringo. Ao seu lado, a quadrilha de atores também se fortalece e ganha um espaço ao sol, sobretudo pelos aspectos dos personagens serem bem explorados; chega a ser possível até fazermos comparações que levam diretamente aos mais empolgantes papéis já protagonizados na sétima-arte. O responsável por esta exímia exploração é o diretor Luigi Vanzi que, mesmo sem tanta inspiração, consegue fazer um convincente trabalho atrás das câmeras e separar algum dos ingredientes para um apreciável bang-bang à italiana.

Cercado de referências inspiradoras e ainda apresentando uma trilha sonora indiscutível e sempre presente durante o filme, Um Dólar entre os Dentes chega a nos surpreender com a vingança da monumental cena final. Mesmo sem tanto sucesso comercial na época de seu lançamento, ainda foram realizadas mais duas sequências para ele, com o mesmo Luigi Vanzi na direção e o mesmo Tony Anthony no papel principal: Um homem, um cavalo e uma pistola (1967) e O Estranho no Japão (1968). Sendo também mais um entre os bons trabalhos obscuros dentro do faroeste, a ação de se realizar tal Trilogia do Estranho – se assim podemos dizer – é outra alusão a Sergio Leone e sua primeira trindade na história cinematográfica...

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

4 comentários:

  1. Já tinha assistido ás sequelas mas não me tinha cruzado com estes até - curiosamente - hoje. realmente o filme é bastante decalcado da obra de Leone, mas sem tal efeito. "Um homem, um cavalo e uma pistola" é em meu ver superior.

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  2. Servindo como um início da trilogia, o filme até que funciona bem. Ainda preciso acompanhar as sequências...

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  3. Este é um de vários exemplos de westerns-spaghetti com um título estranho!

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  4. Assisti a esse filme e gostei. Apesar de se parecer bastante com Por um punhado de dólares, ele é bem divertido e a trilha sonora muito boa. A Sequência final é show!!!

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