7 de janeiro de 2012

Crítica: Blackthorn – Sem Destino


BLACKTHORN
(BLACKTHORN – SEM DESTINO)

Direção: Mateo Gil

Roteiro: Miguel Barros

Produção: Ibón Cormenzana e Andrés Santana

Ano: 2011

Elenco: Sam Shepard, Eduardo Noriega, Stephen Rea...

Duração: 98 minutos

Barba malfeita em conjunto com a velhice de um ultrapassado Butch Cassidy reagem positivamente para a modificação e desmitificação de sua história.

Análise: Desde O Grande Roubo do Trem (Edwin S. Porter, 1903) – a segunda das projeções do gênero western responsável por encarar, com todas as armas possíveis, o mundo da sétima-arte – já era possível ter uma concepção de como agiam os famigerados facínoras da vida real. Até então, naquela época, as ações praticadas pelos “foras-da-lei do oeste” registravam-se somente através de lorotas e fotografias primitivas. No entanto, por conta da invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, tudo poderia ser transformado em magia mediante as telonas do cinema, até sendo possível a reprodução daquilo que era narrado por cidadãos norte-americanos sobre seus terríveis pesadelos: assaltantes de bancos e trens, ladrões de gado, caçadores-de-recompensa, índios desolados, violadores da lei, pistoleiros fictícios, etc...

Foi de tal maneira, inclusive, que se alimentou a indústria cinematográfica ao passar dos anos: as aventuras de Pat Garrett & Billy the Kid migravam do papel direto para as lentes das câmeras, assim como acontecia com os irmãos Frank e Jesse James, os amigos de idas e vindas Wyatt Earp e Doc Holliday, e no caso de Blacktorn, a dupla de foragidos Butch Cassidy & Sundance Kid.


Duvidosamente liquidado no inflamado tiroteio contra o Exército Boliviano, no distante ano de 1908, o lendário pistoleiro do velho-oeste Butch Cassidy poderia estar vivo, mesmo 19 anos após o acontecido, em 1927. Pelo menos, é assim que se manifesta a premissa de Blackthorn – segundo longa na carreira do diretor espanhol Mateo Gil, em uma produção hispano-franco-boliviana.
“Butch Cassidy foi um dos mais procurados fora-da-lei da América do Norte no início do século XX, chefiando gangues lendárias, como a Wild Bunch e a Train Robbers Syndicate. Caçado pela lei e pelas grandes companhias, ele fugiu para a América do Sul com o seu amigo Sundance Kid. Ambos foram supostamente mortos em um tiroteio com o Exército Boliviano em San Vicente, Bolívia, em 1908. Recentemente, investigadores checaram restos achados no local onde testemunhas afirmaram que eles foram enterrados. E não estavam lá!”
Durante o último suspiro da dupla, interpretada por Paul Newman e Robert Redford em Butch Cassidy & Sundance Kid (George Roy Hill, 1969), temos um plano médio congelado nos parceiros de tantos roubos: é possível que seja uma consideração do diretor para que, assim como o filme se finaliza naquele exato momento, os bandidos também estariam quitados. Já em Blackthorn, também há uma paralisação no final, porém em um plano close-up, em um passado alheio e em um momento jovial, com a cavalgada junto aos companheiros de farra; na circunstância, Mateo Gil busca ligar os tempos dourados de Butch à sua volta para o país natal, isto é, culminando em situações de satisfação. 


Ainda a respeito de sua direção, Mateo consegue traçar elementos cardeais que seguirão pra sempre em sua futura carreira no cargo de realizador: o mais vistoso dentre todos são os zooms dramáticos, utilizando-se do princípio de maneira exagerada. Aliás, outra influência para a realização do filme foi o polêmico Sam Peckinpah e toda sua filmografia, já que o assunto “fim de carreira” beira as obras do poeta da violência e também ganha seu espaço em Blackthorn.

A escritura do roteiro, por Miguel Barros, fica por absorver mais circunstâncias pessoais e deixa de lado as aventuras do personagem principal, aperfeiçoando seu lado emocional de um jeito primoroso. Assim, tudo o que você precisa saber sobre o passado e o presente de James Blackthorn/Butch Cassidy está em um roteiro de cunho indispensável: romântico, nostálgico, áspero, sarcástico, focado, emotivo. Apesar de tudo, também existem algumas falhas que podem passar despercebidas por olhos e ouvidos mais desatentos...

As visões de uma Bolívia já estudada no clássico de 1969 são captadas de forma imponente pela lente de Juan Ruiz Anchía, causando uma boa impressão no trabalho de fotografia. Inclusive, a calmaria de suas imagens culmina em um ritmo lento desenvolvido pela trama. 

Com as atuações, o cuidado teve de ser maior, visto que a história é passada em um país latino-americano e o elenco em si é de diferentes origens; portanto, os esquisitos sotaques aparecem em grande parte do filme. Além disto, as caracterizações criadas pelo americano Sam Shepard, pelo espanhol Eduardo Noriega, pelo irlandês Stephen Rea e pela peruana Magaly Solier, são de um adequado porte.

A banda sonora, de Lucio Godoy, aposta em canções letradas, deixando as tradicionais composições instrumentais de lado. Um dos cumes da película, a propósito, é quando Shepard cavalga com seu cavalo enquanto toca uma música em um instrumento de cordas um tanto quanto distinto. 

Por último, um dos maiores destaques vai para a edição: o trabalho encabeçado por David Gallart consegue manter a atenção e não perder o compasso ao retornar para o passado nas cenas de lembrança. 


Propagado em um ritmo lento, assim Blackthorn também se revela um filme sutil, criado para que captemos sua essência através de todos os elementos possíveis: diálogos, olhares, gesticulações. Adiante disto, chega a ser encharcado de muitas referências (sobretudo ao citar os mestres John Ford, Sergio Leone e Sam Peckinpah) e, portanto, é feito na medida para os amantes do western, do cinema em geral e até mesmo da história dos Estados Unidos ao desmontar a narrativa criada para os mitológicos Butch Cassidy & Sundance Kid.

Mas, acima de tudo, interessante mesmo é ver a produção de países que possuem, entre si, diferentes estilos para “fazer cinema”, cada qual com sua própria história na sétima-arte: Espanha, França e Bolívia em perfeita harmonia para originar em um resultado que não poderia ser melhor! 

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:


ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA. 

Um comentário:

  1. Esse filme é muito bom. Adorei a fotografia e a atuação do Sam Sheppard é primorosa. Está entre os meus favoritos. Ótima crítica.

    ResponderExcluir