*DUAS VIDAS PARA ANTONIO ESPINOSA*
Direção e Roteiro: Caio D’Andrea e Rodrigo Fonseca
Produção: Poeira Filmes
Ano: 2010
Elenco: Guilherme Lopes, Ângelo Coimbra, Gessy Fonseca...
Duração: 16 minutos
Falta de singularidade por parte dos realizadores faz o curta funcionar mais como um “filme-homenagem” a algo próprio.
Análise: Caipiras, índios sem-terra, conflito entre irmãos, violência sutil, tenebrosidade, tributos... Nada poderia definir melhor do que tais palavras-chaves o curta-metragem Duas Vidas para Antonio Espinosa, de Caio D’Andrea e Rodrigo Fonseca, produzido no ano de 2010, pela Poeira Filmes.
A relação dos diretores, aliás, já vem de tempos atrás, quando Rodrigo Fonseca produziu o primeiro trabalho de Caio atrás das câmeras: o resultado da parceria pode ser observado através de O Solitário Ataque de Vorgon (6 min, 2010).
E a partir desta ficção científica de D’Andrea é que também já podemos ter em vista as características dos companheiros, quando estão juntos: tanto Vorgon quanto Duas Vidas são projetos que buscam homenagear diferentes e marcantes gêneros da sétima-arte, sendo que o primeiro é baseado nos filmes de monstros (com respingos de sci-fi) e o segundo nos westerns, principalmente os spaghettis de Leone & Cia.
Uma trama argumentada para ter sua utilização em filmes de faroestes não apresentam tantas diferenças substanciais, aparentando ser sempre as histórias mais básicas e clichês do gênero. Assim, como de pastiche, somos apresentados a um mundo de pistoleiros, de tribos indígenas, de vingança pródiga, de religiosidade, de fantasia e, por fim, de muitos outros elementos.
A história não é de difícil compreensão, porém suas influências ultrapassam os limites do western: durante o ano de 1949, os irmãos Alberto (Guilherme Lopes) e Antonio (Ângelo Coimbra) atacam – ao lado de mais dois amigos – uma tribo indígena indefesa e sem moradia, apenas pelo prazer da farra. Entretanto, o resultado não é o esperado e Antonio desmaia ao se deparar com o místico chefe dos índios (Índio Lopes). Sem conseguir acordar, ele é deixado para trás e, 27 anos depois do acontecido, retorna como uma figura implacável para se vingar do irmão.
Dentre as maiores referências que podem ser vistas através do trecho acima, o fato de Antonio ser cuidado por tribos indígenas nos remete, de prontidão, aos enredos de Um Homem Chamado Cavalo (Elliot Silverstein, 1970) e Pequeno Grande Homem (Arthur Penn, 1970). Fora tais alusões, temos ainda as pequenas lembranças pela história de O Dólar Furado (Giorgio Ferroni, 1965), na qual também há um choque entre irmãos.
Ainda em meio às homenagens, o duelo é um dos grandes momentos de Duas vidas para Antonio Espinosa onde mais se explicitam os detalhes que influenciaram os diretores do curta.
Um exemplo disto é quando Antonio coloca sua faca sobre o ombro, nos fazendo remeter a dois grandes filmes de faroeste: Sete Homens e Um Destino (John Sturges, 1960) e O Dia da Desforra (Sergio Sollima, 1966). No primeiro dos citados, temos James Coburn no papel de Britt, um especialista em facas, fazendo dela seu principal armamento; já no segundo, Tomas Milián interpreta Cuchillo (em português, significa “faca”), já demonstrando tudo sobre o personagem.
Além disto, os close-ups nem precisam ser esclarecidos como menções ao mestre do eurowestern, Sergio Leone. Os olhares tensos, os planos americanos e as tomadas por entre as pernas nos lembram diretamente de Três Homens em Conflito (1966) e Era uma vez no Oeste (1968), ambos do diretor italiano.
Por último, o duelo também referencia o “segundo dos Sergio’s”, como era chamado Sergio Corbucci, autor de obras como Django (1966) e Il Mercenario (1968). Porém, aqui, o longa mais lembrado do diretor é Compañeros (1970), onde os travellings rondam as cabeças de Antonio e de seu irmão, Alberto.
Assim, com tantas conexões ao western, a ausência de uma direção própria é o principal erro da dupla de realizadores. Mesmo com isto, não deixa de ser interessante ver as novas – ou velhas – facetas do cinema nacional circundadas por close-ups do cinema italiano das décadas de 60 e 70. O roteiro, também elaborado por Caio e Rodrigo, conta com inúmeras citações aos antigos faroestes, sejam eles norte-americanos ou europeus.
O elenco, marcado pelo semblante do veterano Índio Lopes, proporciona atuações regulares, sem nos passar tanta confiança. Ainda por cima, dois dos atores – Rodrigo Fonseca e Luiz Fernando Resende – trabalharam com Rodrigo Fonseca no curta-metragem Mundo Cão (18 min, 2009).
As locações interioranas puxam o filme para um resultado mais abrasileirado, visto que as paisagens de pouco lembram os desertos do velho-oeste estadunidense ou europeu.
Apesar de tudo, o que mais fez falta para Duas Vidas foi uma trilha sonora de maior consistência. O trabalho de Renato Galozzi no quesito chega a proporcionar boas situações de nostalgia ao relembrar clássicos do gênero, mas mesmo com isto, um grande impacto é causado sobre o filme. No duelo, principalmente, onde os diretores tentaram criar um clima de tensão sem a música, mas não resultou em apenas “algumas trocas de olhares”. Em outro caso, as cenas de ação – como os tiroteios – perdem sua autonomia sem a banda sonora e se restringem a um clima fake.
Pistoleiros com ares sertanejos, tribos indígenas que se misturam aos componentes estadunidenses e bolivianos, a vingança pródiga entre irmãos, a religiosidade da idosa mãe, o sobrenatural de um índio que não tem seu corpo penetrado por balas... A tradução de todo o curta-metragem é “uma mistura extravagante de diferentes elementos de diferentes diretores e de diferentes culturas”.
Conclusão: de uma qualidade técnica inquestionável, a falta de personalidade por parte dos diretores resulta em um projeto sem espírito próprio, funcionando mais como um “filme-homenagem” ou então um treinamento para cinéfilos. Apesar disto, o curta serve para despertar o interesse em cidadãos brasileiros afastados do gênero, o qual hoje anda deveras desaparecido da mídia.
MINHA NOTA PARA ESTE FILME:
ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.
* O curta-metragem em questão foi visto durante o III FIIK – Festival Internacional de Cinema Independente Kino-Olho.
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