IL MERCENARIO
(OS VIOLENTOS VÃO PARA O INFERNO)
Direção: Sergio Corbucci
Roteiro: Adriano Bolzoni, Luciano Vincenzoni, Sergio Corbucci e Sergio Spina
Produção: Alberto Grimaldi
Ano: 1968
Elenco: Franco Nero, Tony Musante, Jack Palance...
Duração: 110 minutos
Vindo da prateleira onde se situam os melhores filmes zapatistas, “Il Mercenario” mostra que continuará irretocável por todo o sempre.
Dia 06 de dezembro do longínquo ano de 1927, comuna de Roma, na Itália. Discorrendo assim, de maneira tão direta, parece que fomos levados a uma data e a um território completamente vagos; contudo, foi então que nasceu um dos mais importantes realizadores do cinema italiano e, mais especificamente, do gênero western spaghetti. Estou falando de nada mais nada menos do já falecido Sergio Corbucci, também conhecido pelo afetivo apelido de segundo Sergio, dado que o cineasta surgiu logo após o estrondoso sucesso do primeiro Sergio (o Leone) e apareceu antes do terceiro Sergio (o Sollima).
Sendo de tamanha importância para o faroeste em geral por trazer uma violência em maior quantidade, como forma de homenageá-lo, aqui vai a resenha de uma de suas maiores obras-primas: Il Mercenario, batizado de modo inconveniente no Brasil como Os Violentos vão para o Inferno.
Posterior ao sucesso de Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966), a rede de influências para o eurowestern havia se voltado totalmente para o afamado diretor da Trilogia dos Dólares. No gênero, cada vez se produzia mais, porém sempre com menos orçamento, o que se traduzia em um resultado trágico. Era a grande tônica dos spaghettis!
O ex-assistente de Leone, Sergio Corbucci, já realizava filmes desde 1951, porém nenhum com estrondoso sucesso. O reconhecimento veio, de fato, com Django (1966), consagrando não só o diretor, mas também o ator de spaghettis, Franco Nero. Assim, dois anos depois de adquirir certa fama, Corbucci filmava com maior vivência seu primeiro zapata-western: Il Mercenario se reflete em uma ambiência da Revolução Mexicana, a qual acabaria por transformar um “ninguém” em um “mandachuva revolucionário”.
Então, pela grade de prestígio que cercava a obra-mestra de Leone citada anteriormente, o filme zapatista de Corbucci de prontidão começa com os créditos iniciais idênticos ao de Três Homens em Conflito: imagens são sobrepostas em cores fortes, como o verde ou o vermelho e as alcunhas de todos que participaram do filme rolam. Outro ponto em comum entre as películas é justamente a participação de personalidades como Luciano Vincenzoni no roteiro e Alberto Grimaldi na produção, ambos de renome na difusão do western spaghetti.
No entanto, apesar da influência acarretada pela obra de Leone, Corbucci também se sustenta em rudimentos comuns de sua própria filmografia: um dos pontos primordiais é quando algum dos personagens tem seu corpo enterrado no chão e apenas a cabeça deixada de fora, com o objetivo de que seja pisoteada pelos cavalos. Afora em Il Mercenario, tal evento também aparece em Compañeros (1970), o segundo filme de Corbucci ambientado na Revolução Mexicana e com os semelhantes conceitos de seu primeiro, até com os mesmos atores desenvolvendo papéis um tanto quanto equivalentes.
Mais vale ser um palhaço vivo do que um herói morto.
Da forma mais inusitada possível, os personagens vão ganhando espaço ao decorrer da projeção e se manifestando para o espectador de pouco a pouco: durante o estopim da Revolução Mexicana, o emigrante e mercenário polaco de nome Sergei Kowalski (Franco Nero) narra a história dos responsáveis por tomar conta de toda a trama do filme. Primeiramente, nos apresenta o compañero Paco Román (Tony Musante), uma espécie de “Robin Hood do México”, que antes era apenas um peão e líder revolucionário e seis meses depois se sustenta trabalhando como palhaço em uma arena de tourada; em segundo, avistamos a riqueza do inescrupuloso Curly (Jack Palance); em terceiro e último lugar, a beleza de Columba (Giovanna Ralli), uma nova revolucionária liberta por Paco e seu bando.
Dentre eles, tudo irá se entrelaçar, formando ciclos de vingança e de parcerias nem tão duradouras. O polaco, de pronto, aplica suas regras: só ajudará a revolução em prol do capital. O mexicano Paco, vendo que precisará de seu auxílio, oferece tudo do bom e do melhor. No fim, traição e reconciliação farão parte desta história marcante!
Pelo episódio em que era assistente (e aprendiz) de Sergio Leone, Corbucci demostra que realmente absorveu muito do precursor do western spaghetti: como a maioria sabe, um dos elementos mais visíveis na obra do primeiro Sergio é o intenso uso da religião e, aqui, o segundo Sergio abusa dela, principalmente quando mostra o bastardo Curly rezando ao matar alguém; além de tal elemento, os característicos close-ups se deleitam no grande ecrã, os planos em primeira pessoa causam maior tensão, as câmeras em movimento seguem os personagens de forma relevante e os constantes zooms sempre se mantém no ritmo. Tudo prenuncia que sua direção sempre adquire maior progresso!
Outro princípio imposto por Leone era sobre o fundamento dos sons naturais e da trilha sonora, ambos essenciais para narrar uma história. Pelo visto, foi aprendido corretamente por Corbucci: em Il Mercenario, estes são os grandes responsáveis por criar uma atmosfera de tensão, sobretudo por conta da dupla Ennio Morricone e Bruno Nicolai. Somente com a faixa principal, repleto de assobios e guitarras profundas, já sentimos na pele os conflitos pelos quais passarão os personagens; a aposta, também, é para uma pitada de toques mexicanos e embalados de alegria. Pelo poder da trilha sonora do filme, o tema do primoroso duelo foi aproveitado por Quentin Tarantino em seu Kill Bill.
As atuações, sustentadas basicamente pelos atores principais (Nero, Musante, Palance e Ralli), são competentes e, portanto, positivas. Os sotaques aderidos por Franco Nero (o polonês) e por Tony Musante (o mexicano) até chegam a ter um nível cômico, porém são falados da melhor maneira possível.
Por último – mas não menos importante – um roteiro de tirar o fôlego, escrito por um quarteto melhor ainda. As situações criadas por Bolzoni-Corbucci-Vincenzoni-Spina não são nada corriqueiras no gênero do western, e é por isto que merecem um maior destaque. Inclusive, onde já se viu ringues de tourada e palhaços dividindo uma mesma tela, em uma ambientação do velho-oeste?
Em 1968, com pouco mais de 40 anos e 30 filmes, Sergio Corbucci já concretizava para o mundo que sabia fazer cinema. Naquele mesmo ano, realizou duas de suas obras-primas: Il Mercenario e O Vingador Silencioso. E então, a pergunta que não quer calar “como dois filmes feitos no mesmo período de tempo possam ter saído tão divinais como estes trabalhos de Corbucci?”. Ninguém sabe a resposta; aliás, o único que realmente sabemos é que a qualidade de ambas as obras deve ser de muita apreciação. Fora isto, ainda é certo afirmar que aquela época não só foi dourada para o diretor italiano, mas também para o cinema global e, ainda mais, para o gênero do faroeste, que pôde contar com inúmeras invenções de calão “indispensável” na história cinematográfica: além dos trabalhos de Corbucci que já foram mencionados, também há a presença de Era uma vez no Oeste (Sergio Leone) e A Marca da Forca (primeiro projeto da Malpaso Company, dirigido por Ted Post e com atuação de Clint Eastwood).
Portanto, Il Mercenario – verdadeiramente sobrecarregado com muitas detonações de explosões e tiros, de humor negro e frases de efeito com caráter cínico – consegue com muita facilidade atrair para as telas os mais variados espectadores, assim como o diretor Sergio Corbucci consegue levar para uma arena de tourada personagens um tanto quanto incomuns no gênero do western: desde palhaços e toureiros até os já reconhecidos pistoleiros de poucas palavras e os ordinários homens de bom dinheiro.
Concluindo de uma maneira mais objetiva: é a genialidade de Corbucci colocada em prova, e acertando a maioria das questões depois de colecionar tantas obras-primas em seu invejável currículo!
MINHA NOTA PARA ESTE FILME:
ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.
IL MERCENARIO é um dos melhores Zapata-westerns feitos em Itália. O momento alto do filme é o duelo na arena.
ResponderExcluirQuero também salientar que Corbucci nunca foi aprendiz de Leone. Ambos começaram a trabalhar no cinema nos anos 50 como humildes assistentes de realização.
No final dos anos 50, durante o filme OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPEIA, o realizador Mario Bonnard morreu e quem completou o filme não foi somente Sergio Leone, como se diz. O filme foi feito pelo trio Leone / Corbucci / Tessari.
Também concordo que "Il Mercenario" seja uma das obras zapatistas mais primordiais de todas. Assim como Leone é reverenciado por "Três Homens em Conflito" e "Era uma vez no Oeste", Corbucci deve ser com "Il Mercenario" e "Compañeros"!
ResponderExcluirEm relação ao fato de Corbucci ser aprendiz de Leone, sempre achei que ele era seu assistente e, como todo assistente, deveria aprender com a pessoa de maior calão.
Desculpa se estou errado com minha informação!
Quem é claramente aprendiz de Leone é Tonino Valerii, que trabalhou durante muitos anos à sua sombra.
ResponderExcluirSergio Corbucci era um cineasta genial que foi muitas vezes injustiçado! Não chegou a ter a fama mundial de Leone porque os seus melhores filmes nunca tiveram exposição nos EUA, além de inúmeros problemas com a censura.
E foi Corbucci (e não Leone) que teve a ideia inicial de ir para Almería fazer westerns! Essa ideia surgiu quando ambos procuravam os melhores locais em Espanha para filmar OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPEIA.
Gostei bastante desse também. Roteiro cheio das reviravoltas e a temática dos zapata westerns é interessante. Por sinal, seria interessante algo como um top 10 zapata westerns, hein?
ResponderExcluirOric, agradeço por seus agora frequentes comentários na página! Fico muito feliz que o blog seja enriquecido com eles. Apenas peço perdão por não poder responder todos, devido a questão do tempo.
ExcluirMas peço que fique a vontade e não pare de comentar! Leio todos. E sua sugestão de 10 zapata westerns pode se concretizar! Por enquanto vamos trabalhando com os "filmes de cangaço".
Abraços!
Algo no filme que achei genial, e não sei se é paródia e/ou homenagem, foi o fato do Polaco riscar palitos de fósforos e todos os lugares possíveis, isso é muito presente em faroestes, mas também em filmes noir e policiais. Outra coisa que achei que beirou à beleza extrema, é o fato de Polaco, um “coração gelado”, entender perfeitamente as utopias do Paco e esse bem saber que lidava com um “coração gelado”, embora Paco, obviamente, mais passional, entender, mas aceitar menos a frieza do outro.
ResponderExcluirE acho Corbucci mas espaguete que Leone, Leone acho mais grandiloquente, mais cinema geral, já Corbucci é faroeste pacaraio, abusa de balas, sangue e mulheres (são mais protagonistas que em Leone) e acho o humor de Corbucci mais Chaves/Trapalhões/circo que em Leone. Adoro ambos os dois proporcionalmente na mesma medida. 😉
De qualquer forma é até injusto que o melhor filme de Corbucci, Il Gran Silenzo (Que desfechol senhores! Que desfecho!), seja um filme mais universal e menos faroeste que Django e Il Mercenario, mas acho que deve ser mais conhecido por Django mesmo e ainda antes da bela homenaem de Tarantino.
Filme bom demais...